quinta-feira, abril 08, 2010

O efeito retardado no Mordo do Bumba se deve ao encharcamento progressivo do terreno.

Tragédia em Niterói
Especialistas alertaram, em VEJA.com, para o risco de áreas como o Morro do Bumba
8 de abril de 2010 - Por João Marcello Erthal
A área com dezenas de casas que desapareceu sob a avalanche de terra e detritos no Morro do Bumba, em Niterói, integra o conjunto de locais que resistiram aos primeiros temporais, mas, encharcados, desmantelaram-se com as chuvas menos intensas dos dias que se seguiram à primeira tormenta.
Na manhã da quarta-feira, o professor de geotecnia Maurício Ehrlich, da Coppe/UFRJ, chamava a atenção das autoridades para o risco nesse tipo de terreno. “A chuva forte causa deslizamentos rapidamente em solos de pouca espessura. Terrenos mais espessos levam mais tempo para apresentar a ruptura, o que pode ocorrer vários dias depois do pico do volume de chuva”, alertava o pesquisador a VEJA.COM.
Ehrlich não é um profeta. Se os gestores públicos do estado e de Niterói tivessem dado ouvidos ao que ele e outros pesquisadores afirmavam desde o início da nova onda de desabamentos, a providência teria sido a de retirar compulsoriamente as famílias que ainda ocupavam – e ocupam – terrenos com risco de desabamento.
O efeito retardado no Mordo do Bumba se deve ao encharcamento progressivo do terreno. Como há mais terra para absorver a água, a pancada inicial de chuva não causa danos. Mas o nível de líquido no solo, principalmente quando fica represado, vai subindo aos poucos. Depois de alguns dias com chuva fina, mesmo que sem grande intensidade, o peso do terreno e a perda de resistência causam a “ruptura” – termo técnico para o deslizamento que, onde há ocupação por casa, é também sinônimo de tragédia. Trocando em miúdos, a tragédia era questão de tempo.
Para quem está atendo ao volume de chuvas e à composição da encosta, esses movimentos do solo não são surpresa. Já para os que incentivaram a ocupação ou se omitiram... “Não dá para o prefeito dizer que não sabia. É ocupação incentivada. Jorge Roberto Silveira e o PDT estão no poder em Niterói há mais de 20 anos, ignorando e estimulando a expansão de favelas. Alguns partidos, ditos populares, progressistas, acham que favela é uma maneira de punir a burguesia. Isso é uma burrice, uma maneira de punir a população carente. É usar a população carente com arma de uma ideologia distorcida”, acusa o especialista em engenharia costeira Paulo Cesar Rosman, também da Coppe, defensor ferrenho da remoção das ocupações de encostas.
Morador de Niterói, o pesquisador e professor do departamento de Geologia e Geografia da UERJ Luiz Carlos Bertolino, chama atenção para uma fragilidade a mais no Morro do Bumba. “O local serviu de depósito de lixo da cidade, sem qualquer estrutura, até 30 anos atrás. Era uma área sem qualquer condição de receber construções, mas como não há política de habitação ou controle da ocupação urbana, transformou-se quase em bairro. Agora, tentam culpar os moradores pela própria tragédia”, afirma.
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/

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