quarta-feira, abril 28, 2010

Por não ser um tema que mexe com o cotidiano da maioria da população, a política externa de um país dificilmente entra na pauta de debates de candidatos à Presidência

SEJA QUAL FOR A LINHA, É PRECISO TER UMA
EDITORIAL  - JORNAL DO BRASIL  - 28/4/2010
RIO - Por não ser um tema que mexe com o cotidiano da maioria da população, a política externa de um país dificilmente entra na pauta de debates de candidatos à Presidência. O que acaba causando algumas surpresas quando o postulante chega ao poder – e não havia tornado públicas suas ideias sobre a linha de ação com os vizinhos. 
É inegável que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, até bem mais pela solidez das estruturas internas – notadamente a econômica – do que pela ação da diplomacia, levou o Brasil a uma situação de liderança no continente e a ser um dos principais players do tabuleiro das nações. Não foi gratuito o comentário do presidente americano, Barack Obama, de que Lula era “o cara”. 
A solicitação de países emergentes e outros menos desenvolvidos para que o Brasil seja mediador nas mais variadas contingências é outra prova inequívoca do acerto da política do Itamaraty no macro. 
Mas, como se costuma dizer em política, no que um governo acerta, não fez mais do que a obrigação. É importante que se discuta o que não saiu tão bem ou, pelo menos, o que causou mais críticas e polêmicas, no sentido construtivo de que os sucessores escolham um caminho para delas fugir. 
A lição mais importante que o próximo presidente deve ter em mente é evitar as posições contraditórias entre seus próprios integrantes. Menos do que a linha que se siga, é preciso seguir uma. A falta dessa firmeza causou desgastes desnecessários a Lula. 
Como no caso do recente incidente diplomático com a Colômbia. A representação brasileira no Fundo Monetário Internacional afastou a funcionária colombiana Maria Inés Agudelo, que defendia uma política econômica com regime de metas de inflação, de superávit fiscal e flexibilidade cambial – ou seja, fundamentos que o governo brasileiro segue, mas dos quais discorda o comando brasileiro no Fundo. Outro paradoxo é o Brasil defender que ninguém interfira nas políticas de outras nações – como a nuclear do Irã – e ao mesmo tempo ceder a embaixada brasileira em Honduras para a arrastada novela protagonizada por Manuel Zelaya. 
A outra noção importante que permeia as ações diplomáticas é a de que é preciso cautela com as declarações. Mas isso vai muito da personalidade do chefe do Executivo – como é público e notório, o presidente Lula é um exímio orador e sabe (e gosta) como poucos dirigir-se a grandes plateias. E às vezes, até pelo improviso, acaba tropeçando, como ao defender posturas nada democráticas do colega venezuelano, Hugo Chávez – especialmente quanto à liberdade de imprensa, que tanto ajudou Lula no passado – ou comparar um manifestante político em greve de fome, em Cuba, a criminosos comuns. Não são fatos que coloquem em dúvida o que ficará de legado da política externa do atual governo. Ao contrário, seguramente a história será bastante generosa com Lula no reconhecimento do salto que o país deu no quesito respeitabilidade no exterior. 
Os equívocos cometidos servem muito mais para que o próximo presidente aproveite com sabedoria a trilha pavimentada pelo antecessor e se desvie das pequenas pedras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Skoob

BBC Brasil Atualidades

Visitantes

free counters