sábado, maio 01, 2010

A segurança pública é, por todas as razões conhecidas, área sensível e complexa no Rio de Janeiro.

NA SEGURANÇA NÃO PODE HAVER RECUO
EDITORIAL - O GLOBO - 1/5/2010
A segurança pública é, por todas as razões conhecidas, área sensível e complexa no Rio de Janeiro. Desde o delegado que, na letra do samba de Donga, do início do século XX, avisava pelo telefone que havia uma roleta para se jogar na Carioca, ao bandido Lúcio Flávio Lírio, da década de 70, refratário a qualquer proximidade com os chamados agentes da lei — “polícia é polícia, bandido é bandido” —, o setor funciona como demolidor de biografias. Sejam pessoais ou profissionais. Da malandragem de navalha na Lapa, em que pontificava Madame Satã, dono do pedaço, ao crime organizado conduzido por grupos armados com fuzis e granadas, a segurança pública carioca e fluminense se converteu em uma questão de fama mundial.Até há pouco tempo, tratava-se de um problema sem solução. Mesmo pontos cardeais na geografia da violência no planeta, como Cáli e Medellín, na Colômbia, o maior produtor de cocaína, conseguiam avanços inimagináveis na perspectiva da região metropolitana carioca. O cenário, porém, tem mudado para melhor devido a um trabalho de equipe conduzido pelo secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. Ontem, o secretário conseguiu algo inédito: completou 1.212 dias no cargo, recorde de permanência no talvez mais espinhoso posto da administração pública fluminense. A situação da Secretaria de Segurança chegara a um nível tão baixo que qualquer melhora no padrão ético na condução da área já seria um progresso incomensurável Afinal, não é sempre que um diretor de polícia sai do cargo e vai para a penitenciária, junto com auxiliares diretos. O caso de Álvaro Lins e inspetores de sua confiança, os tais “inhos”, flagrados como protetores de máfias caça-níqueis infiltrados na alta cúpula da polícia, é de filme de ficção. O uso de técnicas de administração usuais no setor privado, mas revolucionárias na área pública — planejamento, trabalho por metas, remuneração variável em função do alcance de objetivos —, tem produzido resultados positivos inesperados. E, como o baixo clero da política fluminense deixou de influenciar na nomeação de delegados e comandantes de batalhões da PM, passou a existir amplo espaço para um trabalho sério, no qual se destaca o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). As estatísticas da violência mostram o avanço do trabalho. Em fevereiro, houve no Estado do Rio o menor número de homicídios, neste mês, desde 1991 — 473, uma redução de 14,9% em relação a fevereiro de 2009. Na cidade do Rio, a queda foi ainda maior — 37%, com 141 assassinatos contra 224 no ano anterior. Houve diminuição em várias outras modalidades de crimes. O que parecia impossível, acontece. A polícia passa a ocupar favelas de maneira definitiva, liberta milhares de pessoas da ditadura do crime, e permite a chegada às comunidades de serviços públicos essenciais. Mas, em administração, ainda mais na segurança pública, não há vitórias permanentes. É um equívoco fazer projeções mecânicas de dados positivos de redução da violência. Métodos de gestão exitosos, montados à custa de longo e duro trabalho, podem cair como castelo de cartas se não houver o cuidado constante de preservar o terreno conquistado. Será trágico, não apenas para cariocas e fluminenses, se não for consolidada a cultura do combate profissional à criminalidade. 

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