quarta-feira, setembro 01, 2010

Mais uma tentativa de salto para o futuro

Mais uma tentativa de salto para o futuro

O Globo

O presidente Obama, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, os presidentes da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, e do Egito, Hosni Mubarak, e o rei Abdullah, da Jordânia, deram partida a um novo esforço de paz. Pela primeira vez em 20 meses, israelenses e palestinos se sentam à mesma mesa. Os radicais não podiam perder a oportunidade de sabotar o processo antes mesmo de ele começar. Ainda ontem, quatro civis israelenses, entre eles uma mulher grávida, foram emboscados e mortos por militantes palestinos na Cisjordânia ocupada.
Como os radicais sempre apostam no “quanto pior, melhor”, o ataque não chegou a diferenciar mais essa tentativa de fazer com que israelenses e palestinos concordem em negociar das inúmeras anteriores. Pode haver algo diferente agora? Sim. Em primeiro lugar, é a vez do presidente Obama, que recolocou os EUA em sua postura histórica de negociador confiável no Oriente Médio, afastando-se da posição excessivamente pró-Israel de George W. Bush, que ainda por cima deixou o assunto em terceiro plano.
Além disso, Obama optou pelo smart power, dando preferência à diplomacia sobre o big stick brandido por Bush.
Em segundo, esta iniciativa já começa com um deadline que logo pode pôr tudo a perder, ou ser o primeiro ponto de concordância.
No dia 26, vence a moratória adotada por Israel na construção de novas colônias nos territórios ocupados. Netanyahu já prometeu que não a prorrogará. Abbas já disse que, se isto acontecer, não haverá mais conversações. Este é um dos trabalhos de Hércules da diplomacia americana.
Em terceiro lugar, um território palestino — a Cisjordânia — agora floresce sob o governo do primeiro-ministro Salam Fayyad, do partido de Abbas. A economia cresce, as pessoas estão mais otimistas e o governo entrega obras, e conquista os palestinos. Mas a grande realização de Fayyad foi organizar uma força de segurança eficiente e confiável. Com isso, e apesar do cruel atentado de ontem, os próprios militares israelenses demonstram muito mais confiança na força palestina de Fayyad, o que os levou a reduzir patrulhas na Cisjordânia.
Os obstáculos, no entanto, continuam enormes. Um deles é o domínio dos radicais do Hamas sobre a Faixa de Gaza, onde se espremem 1,5 milhão de palestinos.
Os EUA precisam reunir todo o apoio que conseguirem de líderes árabes responsáveis para segurar o Hamas. Alguns foguetes disparados de Gaza contra cidades israelenses, como tantas vezes já ocorreu, colocarão tudo a perder.
Já o bom governo de Sayyad na Cisjordânia não se reflete em aumento da popularidade de Abbas, que segue sendo um líder fraco. Do lado israelense, Netanyahu comanda um governo de linha-dura; seus aliados políticos são contrários a concessões aos palestinos.
Para que algo de bom aconteça, é preciso que os envolvidos deem um salto sobre o dia a dia direto para o futuro — e para a História.
Imperioso lembrar que os que conseguiram isso no passado recente foram assassinados: o egípcio Anwar Sadat por ir a Jerusalém e fazer a paz com Israel; o israelense Yitzhak Rabin por acertar, com o líder palestino Yasser Arafat, um cronograma que levaria à paz. Mas nem por isso deve haver omissão.

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