quarta-feira, novembro 10, 2010

O convite de Obama

O convite de Obama
EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO - editoriais@uol.com.br
Foi em resposta ao crescente poderio econômico e geopolítico da China que o presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou anteontem o apoio de seu país à candidatura da Índia a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU.
A relação complementar entre as economias chinesa e norte-americana -uma poupava, enquanto a outra consumia- entrou em crise com a debacle financeira de 2008. Pressionada por Washington, a China resiste a valorizar sua moeda e ceder em sua estratégia de relação comercial com os EUA e o restante do planeta.
Os americanos fazem mesuras à Índia cientes da importância de seu mercado consumidor, mas também com objetivos de longo prazo. O país, uma potência nuclear reconhecida pelos EUA, tem condições de servir de contrapeso aos chineses na Ásia - tanto do ponto de vista econômico quanto demográfico e militar.
A diplomacia brasileira, que também aspira a um assento definitivo no mais alto comitê decisório da política internacional, reagiu de maneira positiva ao aceno de Washington. Na prática, diz o Itamaraty, Obama chancelou a necessidade de reforma do Conselho de Segurança - e o Brasil é considerado um candidato "natural" a integrá-lo, numa cadeira representativa da América Latina.
É pouco provável, entretanto, que o gesto calculado de Obama tenha consequências práticas imediatas. O processo de reforma dos organismos multilaterais, que já está em marcha, deve tomar anos até que a cúpula da ONU seja alterada. Em que pese o enfraquecimento relativo das Nações Unidas desde o colapso da União Soviética, os países com força de veto resistirão a repartir seu poder.
Isso não invalida a busca do Itamaraty por oportunidades que propiciem a países em desenvolvimento maior peso nos rumos da política internacional. O Brasil, como se sabe, tem conseguido aumentar sua projeção nos fóruns globais -mas não sem tropeços. É preciso zelar para que visões maniqueístas e a ânsia pelo protagonismo não alimentem desconfianças e se traduzam em perda de isenção e de credibilidade.

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