segunda-feira, março 28, 2011

A interferência do Estado no mundo dos negócios


A interferência do Estado no mundo dos negócios
Carta do diretor de redação Helio Gurovitz – Revista ÉPOCA
A gestão do executivo Roger Agnelli no comando da Vale, a maior produtora de minério de ferro e segunda maior mineradora do mundo, sempre foi vista com reserva nas hostes petistas. Numa trajetória de sucesso indiscutível, Agnelli pegou a Vale recém-privatizada e, com uma gestão moderna e arrojada, transformou-a num colosso global. Para o PT, partido que sempre combateu as privatizações e nunca escondeu sua resistência à livre ação do capital privado, o êxito da Vale representa um incômodo contraexemplo. Sob Agnelli, a empresa cresceu como nunca, gerou empregos como nunca e deu a uma corporação brasileira um status – como reza o bordão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – “nunca antes visto neste país”. A Vale foi, para desespero do PT, a privatização que deu certo.
Exceto por um detalhe: apesar de, no papel, ser uma empresa privada, a Vale nunca esteve imune à influência nem à interferência de grupos políticos. Agnelli teve vários embates – em público ou reservadamente – com o governo Lula. E o governo petista sempre se sentiu autorizado a palpitar na gestão da Vale em virtude do intrincado acordo de acionistas, que, na prática, confere ao Palácio do Planalto o controle do capital da empresa. A Vale também sempre manteve executivos associados a outros partidos e cultivou uma teia complexa de interesses, situada na fronteira entre os negócios e a política.
Companhia privada sob controle estatal, a Vale é um animal corporativo só encontrado nos países com forte presença do Estado na economia, como França ou Rússia. Os resultados dessa fauna empresarial para esses países têm sido, numa leitura benevolente, ambíguos. Enquanto a empresa tem a liberdade para crescer movida por suas próprias forças – regime que, apesar das pressões, Agnelli tem conseguido imprimir à Vale –, o benefício é claro. No momento em que o governo decide que ela tem de subordinar seus negócios aos interesses do Estado, quando não à mera ingerência política, o país sai perdendo.
O governo Dilma já deu sinais de que pretende usar seu poder para trocar o comando da Vale e pôr fim à gestão Agnelli. Em sua reportagem de estreia em ÉPOCA, o novo diretor da Sucursal do Rio de Janeiro, Leonardo Souza, investiga como a situação de Agnelli, cujo contrato expirará em maio, ficou mais frágil nos últimos meses. Produzida com a garra de um repórter agraciado com dois prêmios Esso no ano passado, a narrativa revela casos inéditos que demonstram essa fragilidade e analisa um quadro que, de acordo com Leonardo, se tornou “insustentável”. Para o próprio Agnelli, talvez tenha mesmo chegado a hora de sair. Mas será muito difícil que o governo consiga pôr na liderança da Vale um executivo tão competente quanto ele.

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