terça-feira, abril 06, 2010

Não adianta procurar um só vilão para a situação de calamidade que se instalou sobre o Rio de Janeiro hoje

Não adianta procurar um só vilão para a situação de calamidade que se instalou sobre o Rio de Janeiro hoje, deixando inundações e pelo menos 80 mortes já registradas. Segundo o especialista em planejamento urbano sustentável Henri Acserald, trata-se de uma desconexão dos sistemas municipais, tais como gestão de lixo, habitação, escoamento, entre outros. Para ele, que é pesquisador do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano Regional (Ippur), a curto prazo a principal solução seria limpar rios e galerias, impedindo o acúmulo de lixo. Mas, a longo prazo, há necessidade de um projeto que, em vez de brigar com a natureza, faça uso dela para melhorar o escoamento das águas.
--- Precisamos de medidas que evitem o acúmulo de água, mas é algo muito além de limpeza de galerias. Na Europa, por exemplo, já há medidas para se substituir asfalto, além de outras ações que alteram a concepção de planejamento urbano antiga. Hoje, a ideia é aproveitar a base natural de uma cidade, inclusive para facilitar o escoamento, em vez de ir contra ela. No passado, as políticas eram voltadas para canalização, sem respeitar a natureza de rios e mangues. Não dá mais para se pensar desse jeito.
O pesquisador afirma que o principal debate ambiental ligado ao planejamento urbano atual está relacionado com a capacidade de se perceber as relações entre condições de moradia, gestão do lixo e também sistemas de prevenção e socorro em emergências. Tudo isso aliado às escolhas relacionadas ao modelo de urbanização, que pode ser mantido, ou alterado. Em relação às habitações e ao processo contínuo de favelização no município, Acserald faz uma ressalva, lembrando que a saída apontada por especialistas não é a remoção, ao contrário do que tem marcado as ações do governo do estado.
-- As autoridades aproveitam para legitimar as remoções em áreas favelizadas, mas os especialistas têm insistido na necessidade de se urbanizar.  A questão não é ir contra a situação que temos na cidade, mas fazer adaptações. A lição que essa chuva dá é a prova da desconexão de tudo, ou seja, falta de sustentabilidade. É a triste lição que a gente tem -- afirmou o pesquisador.
FOTO: A água da chuva encobriu um ônibus da linha 629 (Saens Peña – Irajá) na altura de Jacaré, no subúrbio do Rio. Para conseguir entrar no ônibus, meninos subiram pelo teto do veículo. Marcos Tristão/Agência O Globo

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