domingo, abril 25, 2010

O tempo é como um rio que pode ter ramificações. Ou seja, você pode visitar esses braços. Mas, ao visitar esse afluente, você estaria fora do curso principal. Estaria em um Universo paralelo.

O descobridor do universo
Michio Kaku festejou o funcionamento do Grande Colisor de Hádrons, no mês passado. O cientista, um dos criadores da Teoria dos Campos de Cordas, vê no maior experimento da história uma chance de provar alguns dos maiores mistérios do Universo: é possível viajar no tempo? O que originou o Big Bang? Como é a matéria escura? E, de uma vez por todas, o que diabos aconteceu na Ilha de Lost?
por Mariana Lucena - Revista Galileu
O físico americano Michio Kaku é um dos pais da Teoria dos Campos de Cordas. Se essa nomenclatura soa algo entre o grego e o japonês para você, acalme-se. Ele explicará tudo na entrevista a seguir. O cientista e futurologista, que virá a Joinville (SC) em maio para o Congresso Nacional de Atualização em Gestão, conversou com a gente sobre o mundo fascinante que se revelará a partir dos dados tirados do Grande Colisor de Hádrons, o LHC. De quebra, rebateu as críticas que físicos, como o carioca Marcelo Gleiser, fazem à Teoria das Cordas, explicou como as viagens no tempo podem ser estudadas a partir do Colisor e ainda mostrou como a Ilha de Lost e a peregrinação temporal de Spock, em Star Trek, podem ter uma explicação mais razoável do que você imaginava. 
* O LHC vai revelar a origem de tudo?  Michio: Sim. E essa história está intimamente ligada a Einstein. Ele procurou por uma “teoria de tudo” por 30 anos, de 1930 a 1960, e não conseguiu encontrá-la. Hoje, nós acreditamos que conseguimos. E a candidata líder para uma teoria de todas as coisas é a Teoria das Cordas. Ela nos dá não somente uma teoria sobre o Big Bang, mas sobre o que existia antes do Big Bang. E também responde a perguntas como “existem outros universos?”, “é possível viajar no tempo?” — que são as principais questões da Cosmologia hoje. 
*Mas, afinal, o que é a Teoria das Cordas?  Michio: Ela postula o seguinte: se o Universo é uma bolha que está constantemente se expandindo — como diz a Teoria do Big Bang —, poderia haver também outras bolhas, outros universos? Nós teríamos, então, um Multiverso. Imagine uma banheira de espuma cheia de bolhas se chocando, nós achamos que assim é o Multiverso. 
* E se essas “bolhas-Universo” se colidirem como as do banho, o que acontece?  Michio: Quando duas bolhas se chocam, elas se fundem e criam uma bolha ainda maior. Isso talvez seja o que chamamos de Big Bang. 
* E você acha que isso poderia acontecer hoje? Nosso universo poderia simplesmente se chocar contra outro? Michio: Em princípio, sim, mas são eventos muito raros. Nossa bolha colidiu com outra 13,7 bilhões de anos atrás. Não deve acontecer de novo tão cedo. 
* Como seriam esses universos paralelos?  Michio: A maioria deles não seria muito interessante. Por exemplo, poderiam ser feitos de eletricidade ou somente de gás. Mas alguns destes universos poderiam ser muito similares ao nosso e é por isso que nós temos a Teoria das Cordas. O LHC foi construído com esse propósito. A ideia é a de que ele ajude a finalmente provar essa Teoria. 
* Como?  Michio: Bom, ele acabou de ser “ligado”, mas terá um forte impacto na Teoria das Cordas porque algumas pessoas acham que é impossível prová-la. E essas pessoas estão erradas. Com os experimentos no Colisor, nós esperamos descobrir novas partículas, as superpartículas. Essas partículas são cordas com alta vibração. Eu, você e tudo ao nosso redor — todos os átomos do mundo — somos formados de nada mais do que cordas minúsculas vibrando em uma frequência baixa. Mas existem cordas em frequência alta, que são as superpartículas. Esperamos produzi-las no Colisor. 
* O que fazem as superpartículas?  Michio: Acredito que elas formam a matéria escura, que é o que mantém a galáxia unida. O Universo não é inteiramente constituído de átomos. Aliás, apenas 10% da matéria do Universo é feita de átomos. A maior parte da matéria é invisível e se chama matéria escura. Nós sabemos que ela existe, temos evidências, mas nunca a vimos. Com o LHC podemos produzir essa matéria escura no laboratório! Uma vez que a tivermos, faremos uma série de testes para ver se suas propriedades batem com as das superpartículas. Se elas baterem, será uma grande vitória. 
* Por quê?  Michio: Veja, existem quatro forças que governam o Universo: gravidade, luz e as duas forças nucleares (força fraca e forte). Só que, no Big Bang, é possível que houvesse algo a mais, uma superforça. Ela seria a força do Big Bang, a fonte de energia original e a razão pela qual o Universo foi criado. Essa é a força que o LHC irá investigar. 
* Recentemente, o físico Marcelo Gleiser disse a Galileu que a Teoria das Cordas está caindo em descrédito porque, em 30 anos, nada foi provado. O que você diz?  Michio: Ele não sabe do que está falando. Por exemplo, há algum tempo as pessoas costumavam dizer que nós nunca saberíamos do que o Sol é feito, porque analisar diretamente o Sol é impossível, você seria queimado vivo. Isso é ingênuo. Nós analisamos a luz do Sol e ela nos conta que o Sol é feito de hidrogênio. Você não precisa visitar o Sol para saber do que ele é feito. Algumas pessoas criticam a Teoria das Cordas dizendo que você teria que criar um “Universo Bebê” no laboratório para provar que ela é correta. E isso também é ingênuo porque, assim como a luz do Sol nos dá uma prova indireta de que o Sol é feito de hidrogênio, o LHC nos dará provas indiretas de que o mundo é feito de pequenas cordas. O que estou dizendo é: a Teoria não foi provada ainda, mas é possível obter uma prova indireta. 
* Há quem diga que o LHC vai permitir até estudar viagens no tempo...  Michio: Muita gente acha. A Teoria de Einstein falava apenas de gravidade e já dizia que a viagem no tempo era possível. Muito difícil, mas possível. Nós não sabemos se a máquina do tempo seria estável, talvez ela explodisse. Talvez você morresse entrando nessa máquina. Para calcular sua estabilidade, precisamos de uma Teoria de Tudo. E a única teoria que combina radiação, matéria, gravidade e é capaz de responder a essas perguntas é a Teoria das Cordas. 
* Como essa máquina seria construída?  Michio: Primeiramente, é muito difícil construir uma máquina do tempo. Você precisaria de uma enorme quantidade de energia, então estamos falando de civilizações muito avançadas do futuro ou de outros universos. Eles talvez possam construir uma máquina do tempo. Nós não podemos. O tempo é como um rio que pode ter ramificações. Ou seja, você pode visitar esses braços. Mas, ao visitar esse afluente, você estaria fora do curso principal. Estaria em um Universo paralelo. E por mais que você fizesse coisas no afluente, não alteraria o curso do rio principal. Esse é um dos motivos de não termos, por exemplo, contato com viajantes do futuro, sabe? Esse filme mais recente da série Star Trek mostrou isso corretamente: Spock cai em um buraco negro, volta ao passado e conhece a si mesmo quando jovem. Quando ele muda a história, ele “cria” um outro universo. 
* É a mesma coisa que acontece em Lost, certo?  Michio: Uma vez me pediram para dizer como Lost poderia ser real. Eu assisti a alguns episódios do seriado e percebi que se houvesse um meteoro feito de matéria negativa e ele caísse em uma ilha, você teria alterações muito estranhas de espaço e tempo. Em um dos episódios da série uma senhora (a personagem Eloise Hawking) diz que na ilha uma coisa muito estranha aconteceu para abrir portais para outras partes da Terra. Eu vi esse capítulo e disse “A-HÁ! Se matéria negativa caísse na Terra, ela criaria buracos negros conectando a ilha a outras partes do mundo. E se você entrasse neste túnel, você poderia também viajar no tempo”. E é assim que você teria realidades múltiplas simultaneamente. O rio se ramificaria em dois diferentes, mas as pessoas dentro dele seriam as mesmas. Nós físicos acreditamos que neste caso um universo paralelo se abriria. O problema aqui é que é muito difícil encontrar matéria negativa — ela é ainda hipotética. Mas se você colocasse matéria negativa na equação de Einstein, então portais do tempo seriam possíveis — logo, seria possível Lost. 

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