quarta-feira, maio 12, 2010

José Serra vs. Míriam Leitão: o candidato deu a resposta correta, no devido tom

José Serra vs. Míriam Leitão: o candidato deu a resposta correta, no devido tom
Sergio Lirio 12/05/2010 17:50:06
Episódio da refrega do candidato tucano com Miriam Leitão durante entrevista à rádio CBN não merece tanta comemoração de quem não simpatiza com sua candidatura
Às vezes, a ânsia em desqualificar o oponente leva os indivíduos a defender posições incoerentes. Principalmente na política. Mais ainda em ano eleitoral. Sabe-se que José Serra não cai bem no figurino paz e amor. Sabe-se de sua incontrolável mania de intimidar jornalistas, quando não exigir suas cabeças em bandeja de prata. Mas o episódio da refrega do candidato tucano com Miriam Leitão durante entrevista à rádio CBN não merece tanta comemoração de quem não simpatiza com sua candidatura. Nestes tempos de brandura marqueteira, foi uma rara intervenção sincera e coerente do ex-governador. Antes firme do que “destemperada”. A pergunta de Miriam Leitão sobre se Serra manteria a autonomia do Banco Central ou se presidiria ele mesmo a autarquia lembrou a formulada no último domingo por um repórter esportivo ao técnico do Internacional, Jorge Fossati. O treinador, ante a derrota de 2 a 1 para o Cruzeiro, reclamou da arbitragem, que teria marcado um pênalti inexistente a favor do adversário. Na sequência, o repórter pergunta, cheio de razão: “Por que nenhum técnico vem a público dizer algo quando o juiz beneficia o seu time?” Fossati, estupefato, fez uma pausa, suspirou e desancou o interlocutor. No fim da entrevista, os dois quase foram às vias de fato.  A pergunta da decantada colunista econômica tem a mesma lógica. Quando feita com certa pompa e atitude, parece conter alguma idéia. Mas logo se percebe a sua inutilidade. Além do mais, parte de uma premissa anacrônica. Já disseram certa vez que os liberais brasileiros são mais liberais do que os do resto do planeta (e não era um elogio). Miriam Leitão está aí para comprovar a tese. Foi uma típica questão da agenda dos anos 90, que a crise mundial por ora estacionada na Europa tratou de desmantelar. Criticar o Banco Central não é sinônimo de intervenção politiqueira. O candidato respondeu que o BC não é a Santa Sé. O que permite acrescentar: nesta altura, nem a Santa Sé é a Santa Sé.  Diretores do BC devem ter autonomia e responsabilidades como quaisquer ocupantes de cargos públicos, seja o ministro da Saúde ou o diretor da Polícia Federal. Seu trabalho deve estar a salvo de interferências menores, de interesses inconfessáveis, mas uma autarquia não pode pairar acima da Constituição e de quem foi eleito para tomar as decisões. Quando erram, os servidores públicos (atenção Miriam Leitão) indicados pelo presidente da República são passíveis de críticas e mesmo demissão.  Nos anos 90, o mercado tentou subjulgar a democracia. As agências reguladoras e os BCs completamente autônomos foram as tentativas mais evidentes de criar estruturas paraestatais, com jurisdição própria e agilidade decisória inexistente nas demais esferas da vida pública e da privada. Procurou-se transferir o poder dos eleitos nas urnas para os agentes econômicos. As sucessivas crises financeiras – do México ao Sudeste Asiático – não foram suficientes para demonstrar o quão ideológica era a oposição entre mercado eficiente e Estado inepto. Foi necessário vir abaixo o teto sobre a porção rica do planeta para que o altar do Deus mercado ruísse. Consta que os seus últimos e mais fervorosos adoradores despacham nas principais redações da mídia no eixo Rio-São Paulo-Brasília.
Como lembra sempre o ex-ministro Delfim Netto, o mercado e as urnas se equilibram. É positivo ver Serra concordar.

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