Armínio Fraga fala sobre os riscos para a economia do país
Thais Herédia - G1
Brasil não pode ‘se embebedar’ com bom momento, diz ex-presidente do BC
Armínio Fraga falou ao G1 sobre os riscos para a economia do país.
Ele alertou para o excesso de populismo em ano eleitoral.
Enquanto o mundo desenvolvido enfrenta as consequências da crise financeira, que deixaram os governos com pesadas dívidas e ameaçam a estabilidade da moeda europeia, o Brasil vive um momento sem precedentes em sua economia. Segundo o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, no entanto, a lição que a crise da Europa nos dá é que o país não pode se “embebedar” com o bom momento e perder o controle.
Em entrevista concedida ao G1 por e-mail na última sexta-feira (4), o executivo diz ainda que um excesso de populismo em ano eleitoral pode ameaçar a trajetória de crescimento da economia brasileira para os próximos anos.
Economista e sócio-fundador da Gávea Investimentos, Fraga também discorreu sobre taxa de juros e seleção brasileira.
G1 - Como o senhor analisa o momento atual do Brasil? Há risco de a inflação voltar a subir? A elevação dos juros é mesmo o remédio mais adequado?
Fraga - O Brasil está passando bem pela crise, mas como a inflação está acima da meta [o centro da meta de inflação definida pelo governo para 2010 está em 4,5%], será preciso alguma correção de rumo. Em geral nestas horas o Banco Central aumenta a taxa de juros para contrair um pouco a demanda interna. O ideal seria que houvesse também alguma contração das políticas fiscal e creditícia, para não exigir um aumento maior dos juros. Há sinais de que o governo seguirá essa linha.
G1 - A crise na Europa pode afetar esse momento que vivemos no Brasil? O que ela nos ensina?
Fraga - Pode. A Europa é um mercado importante para nós, e qualquer problema lá afeta o clima geral de negócios no mundo. A lição maior é que nos bons tempos é preciso cuidado para não se embebedar com o crédito e perder o controle. Isso vale para governo e setor privado.
G1 - O senhor acha que no Brasil governo e setor privado estão nesse caminho?
Fraga - Acho que não, mas sempre cabe um certo monitoramento, aqui e em qualquer lugar do mundo. Nosso consumidor gosta de crédito, e a maioria dos governos também.
G1 - Onde está hoje o fator de risco que pode tirar o Brasil da rota de crescimento?
Fraga - Temos como sempre fatores externos e internos. De fora, uma recaída da crise é a principal ameaça. Se acontecer, as nossas exportações ficariam prejudicadas e investimentos estrangeiros ficariam mais ariscos. De dentro, algum erro de calibragem no curto prazo, como um excesso de populismo em ano eleitoral. Mas não é o que espero.
G1 - Quais erros não se pode mais cometer?
Fraga - Apostar no curto prazo apenas, cair nas armadilhas do populismo.
G1 - Em que nível está hoje o chamado "PIB potencial", que é quanto o país pode crescer sem gerar inflação e um desequilíbrio nas contas externas?
Fraga - O crescimento do PIB potencial deve andar próximo dos 4%, a média dos últimos quatro anos. Mas é um número que tem que ser testado na prática, através do comportamento da inflação.
G1 - Por que o nosso potencial de crescimento é tão menor que o da China e Índia, países emergentes como o Brasil?
Fraga - Porque hoje investimos muito menos do que eles. Algumas áreas carentes são infraestrutura, equipamento, e educação especialmente.
G1 - A taxa de juros, apesar de estar num movimento de alta, está historicamente em níveis muito baixos. Isso faz render menos os investimentos em renda fixa, os mais procurados por serem conservadores. É hora de arriscar mais?
Fraga - Acho que sim. Estamos acostumados com o ganho fácil da renda fixa de curto prazo. Na medida em que se consolide cada vez mais o regime macroeconômico, os juros devem cair, convergindo com aqueles praticados por nossos pares no mundo. Com isso o poupador vai ter que se preparar para diversificar sua carteira e para conviver e administrar risco.
G1 - Gostou do time do Dunga? Qual seu palpite para o campeão da Copa do Mundo?
Fraga - Gostei, mas como a maioria queria um pouco mais de ousadia nas convocações. Estamos indo mais humildes desta vez, quem sabe isso não nos ajuda e voltamos com a Copa?! Já estou em concentração.
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