quarta-feira, junho 16, 2010
Operação Tormenta: quadrilha cobrava até R$ 270 mil por gabarito
Operação Tormenta: quadrilha cobrava até R$ 270 mil por gabarito
Claudio Nogueira, Jornal do Brasil - 21:49 - 16/06/2010
RIO - A Operação Tormenta, da Polícia Federal, desmontou quarta-feira um esquema que fraudou diversos concursos públicos federais nos últimos 16 anos . A quadrilha atuava em todo o país, vendendo gabaritos das provas por valores que chegavam a quase R$ 270 mil. Até quarta-feira, 12 pessoas – incluindo o dono de uma universidade e um policial rodoviário federal – tinham sido presas no Rio e em São Paulo, e pelo menos 120 candidatos que receberam previamente os resultados dos exames foram identificados. Nas operações foram encontrados dinheiro, cadernos de provas e equipamentos para fraude, como pontos eletrônicos.
Investigação desde 2009
A PF chegou ao grupo a partir de investigações sobre o concurso para agente da própria instituição, no ano passado. Além do concurso da PF, a quadrilha teve acesso facilitado a provas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da Receita Federal. Concursos da Anac e da Abin também estão sob suspeita.
– Para o concurso da OAB eles cobravam R$ 50 mil, para agente da PF US$ 50 mil (R$ 88 mil) – revelou Marcos David Salem, diretor de Inteligência da PF. – Já temos conhecimento de que para o concurso para delegado da Polícia Federal eles iriam cobrar US$ 150 mil (R$ 264 mil).
Três opções
A quadrilha também teria tentado fraudar, sem sucesso, concursos da Caixa Econômica Federal, do INSS e da Advocacia Geral da União. O esquema oferecia três opções: o aliciamento de funcionários que tinham acesso antecipado às questões; o repasse das respostas por um ponto eletrônico; e a indicação de uma outra pessoa, mais preparada, para fazer a prova no lugar do candidato.
No site da Ordem dos Advogados do Brasil, o presidente nacional da entidade declarou que não vai permitir que um bacharel em direito entre na Ordem “pela porta do crime”. Ophir Cavalcante também defendeu “ampla divulgação de todos os detalhes das investigações que resultaram na identificação dos fraudadores”.
Os candidatos envolvidos serão processados por estelionato. Quem comandava a fraude vai responder pelos crimes de formação de quadrilha, violação de sigilo funcional, estelionato e falsificação de documentos públicos.
Transparência pode ajudar a moralizar o processo
A descoberta das fraudes pode levar a uma revisão das regras dos concursos públicos no país.
– Temos de tomar as medidas para que isso não ocorra mais. Os concursos têm de ter lisura – reagiu o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. – Há cerca de 5 milhões de pessoas estudando para concurso no país. As pessoas têm de entrar por mérito, e não por fraude.
Fiscalização
O esquema da quadrilha não foi surpresa para quem lida há mais tempo com exames públicos. Paulo Estrela é diretor da Academia do Concurso Público, por onde passam 40 mil candidatos todos os anos, em busca de capacitação para as provas. Ele defende que a fiscalização seja mais forte nos locais de prova – e transparência na divulgação de resultados.
– Exames como aqueles feitos para cadastro de reserva engessam a divulgação e deixam margem para se questionar os resultados. É preciso rever esse tipo de avaliação.
Estudando para concurso há quatro anos, a designer Flávia Cunha insiste no sonho do emprego público, mas não se ilude:
– Ainda bem que pegaram, mas quem estuda já sabe que isso acontece. Ainda deve ter muitos mais.
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