quinta-feira, junho 10, 2010

Sem lugar para ingênuos

Sem lugar para ingênuos

09 de junho de 2010 | 0h 00 - Daniel Piza - O Estado de S.Paulo
O sonho dos sul-africanos é ver uma final entre sua seleção e, claro, o Brasil. Em todo lugar aonde vamos, de Sandton a Soweto, entre brancos ou negros, a expectativa é a mesma. E eles não falam isso para fazer média com o interlocutor. Uma final assim soa ideal porque seria um símbolo único: os donos da casa iriam tão bem que enfrentariam a seleção pentacampeã, mais próxima deles do que as europeias. Embora o time de Dunga esteja jogando num estilo mais "europeizado" e todos aqui sintam falta de Ronaldinho, a referência ainda é "Brasil, Brasil!", como eles chamam o tempo todo quando veem a bandeira em nossas camisas.
A coisa será bem difícil para os anfitriões, mas para o Brasil não será tão fácil. Coreia do Norte é time para golear, já que o saldo de gols pode decidir. A Costa do Marfim tem Drogba, apesar do braço fraturado, mas basta que o Brasil jogue o que sabe. O problema maior, apesar da goleada naquele amistoso em Londres, é Portugal, que ontem venceu Moçambique e o gramado em amistoso aqui em Johannesburgo.
Certo, teve o corte de Nani, que fez temporada boa no Manchester, mas o ataque ainda é perigoso. Os jogadores que devem ser marcados de perto são Deco, cujos passes criam as melhores situações, e Cristiano Ronaldo, que ontem entrou no segundo tempo e mostrou que tinha a solução: chutar a Jabulani de longe para quicar no solo irregular e complicar o goleiro. Futebol também é "cosa mentale". Mesmo assim, se o trio de ataque brasileiro funcionar, Portugal é que terá mais dificuldades.
Classificar em segundo no grupo G tem grande risco: provavelmente leva a um confronto com a Espanha, caso seja a primeira do H. Muito se fala da Espanha por seu futebol de toques envolventes, conduzida pelos meias Xavi e Iniesta, mas também por não ser time "de chegada". Como o jogo não seria na reta de chegada, porém, a tese não ajuda... Quem ficar no topo do grupo G tende a pegar os medianos Chile ou Suíça.
Mas aí a coisa complicaria de novo: a chance de pegar a Holanda nas quartas de final é grande. E a Holanda, mesmo que venha a ficar em Robben, tem jogado muita bola. Sneijder, Van Persie e outros formam um time leve, técnico, que os veteranos da defesa brasileira sofrerão para anular. Mais uma vez, o Brasil não pode se deixar levar pela noção de que a Holanda não convence na "hora da verdade". Um dia as noções viram mentira; os números só funcionam no retrovisor.
O roteiro poderia ser pior, afinal as mais tradicionais - Alemanha, Itália, Argentina, Inglaterra - só viriam na semifinal ou na final. O Brasil não está jogando nem acima nem abaixo delas. Alemanha e Itália têm problemas, mas todas as finais desde 1982 envolvem pelo menos uma das três (Alemanha e/ou Itália e/ou Brasil). E Argentina e Inglaterra têm grandes jogadores. O sonho sul-africano seria bem melhor para o Brasil... Mas sonho é sonho e, no futebol, ingenuidade cobra caro. Jogar "com malícia e atenção", no verso de João Cabral, é o único caminho. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Skoob

BBC Brasil Atualidades

Visitantes

free counters