domingo, julho 04, 2010

DE ORELHA EM PÉ ATÉ 2014 PF se prepara para a Copa e faz 10 mil escutas por dia, em 44 operações

De orelha em pé até 2014
PF se prepara para a Copa e faz 10 mil escutas por dia, em 44 operações
Antônio Werneck

Duas escutas ambientais descobertas nos últimos dias dentro de delegacias federais, no Rio e em Nova Iguaçu, causaram um grande mal-estar entre policiais federais do estado, mas o fato revelou a ponta de um enorme iceberg: investigando mais de 350 pessoas, inclusive seus próprios agentes, a Polícia Federal do Rio tem gravado diariamente cerca de dez mil ligações telefônicas, quase 300 mil por mês, em 44 operações em andamento. Uma ação preventiva para tirar das ruas até 2014, quando a cidade sediará jogos da próxima Copa do Mundo, criminosos de várias esferas.
Na mira dos policiais federais do Rio estão organizações criminosas supostamente formadas por policiais civis, militares e federais; grupos de milicianos, contrabandistas, golpistas, traficantes de drogas e armas; bicheiros ligados à máfia dos caça-níqueis; e criminosos de colarinho branco. Até 2014 — visto também como teste prático preparatório para os Jogos Olímpicos que acontecem na cidade dois anos depois — a produção mensal de investigações vai crescer e terá sua capacidade ampliada em 40%.

Para que o cerco aumente, basta que o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, em Brasília, autorize a descentralização dos monitoramentos no estado, levando a estrutura do Setor de Inteligência do Rio para delegacias regionais em Campos, Macaé, Angra dos Reis, Volta Redonda, Nova Iguaçu e Niterói.
— Pensando em 2014, a Polícia Federal está combatendo o crime em várias frentes, e nossa capacidade de investigação está quase esgotada, no limite. Já pedimos a direção-geral para ampliar. Queremos um estado com mais segurança até a Copa do Mundo no Brasil — afirmou o delegado Ângelo Fernandes Gioia, superintendente da PF do Rio, prevendo muito trabalho no segundo semestre deste ano.
Segurança máxima no Centro de Inteligência
A estrutura que toca e processa todas essas informações é chamada de Centro de Inteligência Policial Compartilhada sobre Crime Organizado (Cicor). Inaugurado em dezembro de 2008, está longe de ser apenas uma grande central de interceptação e monitoramento de ligações telefônicas.
O Cicor é dividido em 13 salas protegidas por senhas e câmeras. Para evitar vazamentos e para segurança total das instalações, cada agente precisa ainda deixar gravada sua digital para ter o acesso liberado. Dentro, há quatro pontos de monitoramento e dois de Internet, além de outros equipamentos modernos.
O policial também conta com conforto no Cicor. Caso seja necessária a permanência de agentes por tempo mais longo, o centro é munido de refeitórios, cozinha, sala de descanso e dormitórios com capacidade para abrigar até 20 pessoas.
— O local é climatizado, confortável e muito seguro — afirmou um policial lotado na Inteligência da PF e que preferiu não ser identificado.
O centro ainda trabalha ligado a outros sistemas da PF, que ajudam no cruzamento de dados fiscais e de movimentação financeira de eventuais suspeitos. Um dos suportes do Cicor é o Centro Integrado de Inteligência Policial e Análise Estratégica (Cintepol), que, a partir de Brasília, funciona em parceria com as superintendências regionais da PF e com o ministério Público Federal.

— É uma grande rede de inteligência interligada, alimentada com informações que chegam de várias partes — contou Gioia.
O Cintepol é coordenado pelo delegado federal Alessandro Moretti, da Diretoria de Inteligência Policial (DIP), o núcleo central das grandes operações da PF no país. Foi Moretti que trabalhou em operações importantes no estado do Rio, como a Operação Gladiador, que tirou de circulação um grupo de contraventores e policiais do Rio ligados ao crime organizado. Também indiciou o então deputado estadual e ex-chefe de Polícia Civil Álvaro Lins (preso mais tarde e atualmente em liberdade), apontado pela Polícia Federal na época como um dos policiais supostamente envolvidos com a máfia dos caça-níqueis. O controle sobre o mercado do jogo ilegal deflagrou uma guerra, que perdura até hoje, entre os contraventores Rogério Andrade e Fernando Iggnácio.
Idealizado nos moldes do Federal Bureau of Investigation (FBI) americano, o Cicor trabalha com um batalhão de agentes. Por sala, são cerca de oito homens, o que, somado, chega a um total de aproximadamente cem homens atuando diariamente. Como muitos são de fora do Rio, o custo é alto: apenas em diárias são gastos todo mês cerca de R$ 150 mil, sem contar o pagamento de salários, alimentação e horas extras.
— Com a descentralização, podemos reduzir custos, economizando muito dinheiro — observou Ângelo Gioia.
A instalação do Cicor supriu o espaço deixado pela Missão Suporte (MS), uma central menor de inteligência que funcionava na PF, de forma precária e apertada, sob o comando do delegado José Mariano Beltrame, atual secretário de Segurança Pública do Rio. A MS tinha 50 policiais federais de fora do estado e foi criada em 2003 pelo delegado Luiz Fernando Corrêa, atual diretorgeral da PF. Inicialmente, ficou focada no combate ao tráfico de armas e drogas, além de investigar a atuação de policiais no crime organizado. Um ano depois de inaugurada, a MS foi suspensa por falta de recursos. O trabalho só foi retomado em maio de 2004. Em 2008, com a inauguração do Cicor, a MS foi extinta.

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