quinta-feira, agosto 19, 2010

Ilusões perdidas da oposição

Ilusões perdidas da oposição
RENATA LO PRETE - Folha de São Paulo

Parte do eleitorado parece achar que "governar na garupa" não é uma má ideia
UMA DAS ÚLTIMAS cartas de que a oposição acredita dispor é lembrar ao povo brasileiro, com a força repetidora da propaganda de TV e rádio, que no próximo 31 de dezembro Lula "irá embora", deixando em seu lugar, a depender do resultado das urnas, "uma mulher que ninguém conhece". Esse é o assunto de várias vinhetas musicais preparadas pela campanha de José Serra.
Lula, porém, embaralhou os planos do adversário logo no primeiro dia do horário eleitoral, afirmando que não pretende ir embora, mas sim "viajar este país inteiro", e, "se tiver alguma coisa errada, pegar o telefone e ligar para minha presidenta".
Ontem, no debate Folha/ UOL, a própria Dilma Rousseff se encarregou de dizer que o presidente lhe "prometeu" se dedicar à construção do ambiente para uma reforma política, a ser feita possivelmente por meio de Constituinte exclusiva.
No governo, ouve-se que Lula funcionaria, em caso de vitória de sua candidata, como uma espécie de "articulador político informal".
Na vida real, ex-presidentes da República dificilmente se encaixam na cena da maneira desenhada pelas palavras de Lula e Dilma, mas o que importa neste momento é a vacina. A ideia de alertar o eleitor para o "risco Dilma" ameaça entrar para uma longa lista de ilusões perdidas pela oposição.
Muito tempo atrás, imaginou-se que o PT não assimilaria bem a candidatura postiça, sendo Dilma um corpo estranho no partido. Mas o temor de perder a máquina federal facilitou a concertação interna e apagou qualquer fogo amigo.
Depois veio a aposta de que Dilma, por falta de traquejo, afugentaria os partidos aliados. Disso Lula tomou conta. Tratorou o próprio PT para assegurar oportunidades de crescimento a todos -e ao PMDB em especial- nos Estados.
Houve ainda a crença nos deslizes verbais, mas eles acabaram concentrados em abril, quando Dilma trocou a redoma do ministério pela vitrine da campanha.
De lá para cá foram relativamente poucos, seja porque Dilma não é Ciro Gomes, seja porque o comando da campanha passou a controlar suas aparições com rigor, expondo-a de forma a não ser confrontada por microfones incômodos.
Por fim, Dilma até agora sobreviveu ao mano a mano -vide a entrevista na bancada do "JN"- e aos tão esperados "embates diretos".
No evento Folha/UOL, demonstrou menos nervosismo que no da Band, duas semanas antes. E, se ainda lê suas considerações finais, também é verdade que foi capaz de morder de volta quando mordida por Serra.
Para desgosto da oposição, uma fatia ampla do eleitorado parece achar que "governar na garupa" não chega a ser uma má ideia.

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