sábado, agosto 28, 2010

O assustador poder de fogo do tráfico

O assustador poder de fogo do tráfico

Traficantes da Rocinha - na foto deram nova e assustadora demonstração do poder de fogo das quadrilhas encasteladas em favelas do Rio, ao transformar São Conrado em terra de ninguém durante confronto aberto com a polícia pelas ruas do bairro, há uma semana. As cenas registradas por moradores são eloquentes: homens com armamento pesado, como fuzis e até uma metralhadora capaz de derrubar aeronaves, tomaram um hotel, fizeram reféns e impuseram o terror a uma das áreas mais nobres da cidade. A prisão de dez criminosos pode ser tomada como uma vitória das forças de segurança, mas não é suficiente para apagar uma evidência: enquanto não forem seccionadas as artérias que abastecem o arsenal do crime organizado, a cidade continuará potencialmente subjugada pelas ações dos grupos que comandam o comércio de drogas, do qual é indissociável o tráfico de armas.
O governo fluminense tem obtido inegáveis avanços na guerra contra o tráfico de drogas, com as operações de estrangulamento da venda e do fornecimento nas comunidades ocupadas por UPPs.
Mas é igualmente fora de questão que, apesar de episódicas apreensões de armas (cuja letalidade, de resto, só confirma o poderio bélico dos traficantes), armamento pesado continua chegando aos chefões dos morros, sinal verde para as afrontas do crime organizado à sociedade e suas instituições.
O tráfico de armas não pode ser enfrentado com ações meramente regionais. As redes que abastecem o crime organizado não só do Rio, mas de todo o país, são irrigadas a partir das fronteiras, o que implica envolver a União em operações integradas de combate ao comércio ilegal de armamento. Mais do que isso, devese ter claro que, por se tratar de atividade transnacional, em razão do crescimento dos cartéis de drogas, é fundamental estabelecer acordos de cooperação com outros países, de modo a blindar os limites territoriais, providência essencial para sufocar os movimentos dos traficantes.
Não foi outra a preocupação demonstrada pelo presidente Felipe Calderón, ao criticar a frouxidão do governo americano em sua política para as armas, do que se beneficiam os narcotraficantes mexicanos. A situação do México é exemplar, como advertência para o flagelo social no qual o crime organizado pode jogar um país. O Estado perdeu o controle sobre os grupos de traficantes de drogas, que se armaram à sombra da leniência das autoridades.
A impunidade levou à afronta aberta aos poderes constituídos, do que se tornou macabra evidência a chacina de quase oitenta imigrantes ilegais que procuravam cruzar a fronteira em direção aos Estados Unidos. Da mesma maneira, pelo poder intimidador das armas, cartéis das drogas espalham ou espalharam o terror na Colômbia, na Bolívia, no Equador e na Venezuela.
Dados o crescente poderio bélico e a cada vez mais evidente desenvoltura dos traficantes, confrontos como o da semana passada podem se repetir no Rio. Os países que não trataram a seu tempo de quebrar a espinha dorsal do crime organizado estão pagando o preço da tibieza. Espera-se que as autoridades brasileiras não paguem também para ver até onde a leniência com o tráfico de armas pode levar o país.
O combate à venda de armas pressupõe ações integradas em todo o país.
Fonte: Jornal O Globo

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