domingo, setembro 19, 2010

A última que morre

A última que morre
Merval Pereira – O Globo
 Na expectativa de que as próximas pesquisas eleitorais registrem alterações na definição do eleitorado que permitam a esperança de um segundo turno, os principais líderes do PSDB vivem uma situação paradoxal.
Gostariam de ir para o segundo turno para manter a polarização com o PT, mas não acreditam que seja possível vencer. Até porque, admitem, Serra teria que mudar totalmente os rumos da campanha, e não acreditam que ele se disporá a isso.
Ao contrário, ele se convencerá de que a estratégia do marqueteiro Luiz Gonzalez estava correta.
Caso a hipótese de um segundo turno se concretize, porém, duas ações práticas estão sendo preparadas: é previsível que haja no PSDB um movimento para uma comissão partidária assumir o comando da campanha.
Há também um manifesto sendo negociado, para ser assinado por grandes nomes da cidadania nacional, chamando a atenção para a atuação antirrepublicana do presidente Lula na campanha.
Querem com isso constranger suas ações em favor de Dilma num eventual segundo turno.
Serra terá, porém, que enfrentar um problema factual: se chegar ao segundo turno mais devido à subida de Marina Silva do que por sua própria força, Serra estará fadado a perder para Dilma a maior parte do eleitorado que escolheu a candidata do Partido Verde no primeiro turno.
Do ponto de vista do militante tucano, chegar ao segundo turno é o objetivo estratégico para manter-se uma referência da oposição.
Mas, para ganhar a eleição da candidata de Lula, a maior chance estaria com Marina Silva, desde que ela mostrasse nessa reta final da eleição capacidade de crescer tirando votos tanto de Dilma quanto de Serra, superando o tucano.
A mais recente pesquisa Datafolha mostra Marina subindo tirando votos de Serra e dos indecisos, mas sem alterar a posição de Dilma, o que não levaria ao segundo turno.
A campanha de Serra pode se deparar com um problema a mais: nas condições políticas atuais, o voto útil em Marina pode vir a se transformar em uma arma mais efetiva para derrotar o lulismo do que o voto em Serra.
Hoje, nas grandes cidades, há um movimento próMarina que pode provocar uma “onda verde” na reta final da eleição.
A estratégia que Serra tentou no início da campanha, de não encarnar o candidato antiLula, na esperança de que o eleitorado lulista o considerasse uma alternativa, Marina utiliza com mais naturalidade.
Tendo uma história de vida inteira dentro do PT e tendo sido ministra do Meio Ambiente na maior parte do governo Lula, a candidata verde tem legitimidade para criticar o governo Lula sem se colocar como dissidente.
Por isso ela evitou durante toda a campanha fazer críticas diretas ao presidente Lula ou à candidata Dilma Rousseff, sem culpá-los pela sua saída do ministério.
O que parece a muitos uma fragilidade de sua campanha, pode ser o justo equilíbrio para levá-la a se tornar a opção do eleitor petista que esteja eventualmente desgostoso com os rumos que o governo vem tomando.
A situação de Serra, por outro lado, continuará bastante difícil mesmo que vá para o segundo turno.
Se não houver mudanças significativas difíceis de se enxergar no momento, ele chegará lá, pelo que as pesquisas estão mostrando, com menos votos do que o candidato tucano Geraldo Alckmin teve em 2006.
Dificilmente atingirá os 42% de votos válidos que o candidato do PSDB obteve naquela eleição, o que o enfraquece como candidato e também dentro do próprio partido.
O presidente Lula, em entrevista ao site IG, comparou mais uma vez a situação de Serra à dele em 1994 e 1998, quando disputou a eleição e perdeu no primeiro turno para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: “Eu lembro o que era dificuldade em fazer discurso em 1994. Sabe, o real bombando, e eu tentando me esgoelar contra o real. Eu fiquei muito tempo com a imagem de uma propaganda de um pãozinho que aparecia caído num prato assim, que o preço era nove centavos.
Era mortal aquela propaganda”, lembrou.
Na reeleição, Lula também se defrontou com a vontade do eleitorado de manter a continuidade do Plano Real, e mais uma vez perdeu a eleição no primeiro turno, mesmo com a economia já dando sinais de que não ia bem e que o real teria que ser desvalorizado.
“Bem, eu acho que o Serra está vivendo esse drama. Ou seja, nós temos de nos conformar e esperar outra oportunidade.
Eu tive paciência de esperar.
Eu tinha menos idade do que o Serra tem hoje. Então, é duro”, comentou Lula.
Esse, aliás, é um assunto que já está sendo tratado nos bastidores tucanos do póseleição.
Mantendo-se as condições atuais, o ex-governador de Minas Aécio Neves emergirá desta eleição como a principal força política do PSDB, e será em torno dele que se organizarão as ações do partido para enfrentar mais quatro anos de oposição preparando uma campanha eleitoral para 2014 que pode ter ou Dilma se candidatando à reeleição ou Lula querendo voltar ao poder.
O futuro de Serra é uma incógnita.
Esta eleição era tida como sua última chance de tentar a Presidência da República, pois terá 73 anos em 2014, mais velho do que Fernando Henrique ao terminar seu segundo mandato.
Na História recente, somente Tancredo Neves, com 74 anos, candidatou-se à Presidência com essa idade. Mas Serra surpreendeu na sabatina do GLOBO, quando disse que poderia ter disputado a reeleição para o governo de São Paulo “e ficar esperando por 2014”. Demonstrando assim que não considera que naquela ocasião estará muito velho para disputar uma eleição presidencial.
Já se fala que disputará a Prefeitura de São Paulo se não vencer a eleição, o que o colocaria novamente em condição de tentar a indicação do partido.
Para isso, no entanto, terá antes que melhorar a votação no seu Estado e na capital, onde atualmente perde para Dilma.
Se conseguir reverter essa situação, pode até mesmo ir para o segundo turno.

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