quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Wikileaks, a história por dentro


Wikileaks, a história por dentro
Fernando Gabeira
Imperdível para quem estuda o jornalismo no século XXI o longo texto do New York Times contando os bastidores das negociações do jornal no episódio do Wikileaks. O texto é assinado pelo editor executivo Bill Keller e surge num momento em que os vazamentos prejudicam o próprio processo de paz no Oriente Médio. Refiro-me as notícias sobre possíveis concessões dos líderes palestinos. A matéria é uma longa defesa da participação do New York Times na história dos vazamentos e uma clara preocupação em manter distância da fonte, Julian Assange.
A história contada pelo New York Times começa com uma chamada telefônica do editor do Guardian. O Times teria uma forma segura de comunicação -  pergunta o jornalista inglês. Resposta negativa. Não havia nada além das ligações ordinárias. Mesmo assim a conversa foi feita: havia uma grande quantidade de material que o Wikileaks queria divulgar e o Guardian estava procurando parceiros.
O New York Times enviou a Londres um homem de seu escritório de Washington que conhecia documentos militares e ele examinou durante dias o material. Eram verdadeiros. Começou aí a preparação dos artigos sobre a guerra, principalmente  Afeganistão.
Tanto no material da guerra como nos telegramas diplomáticos, o jornal procura se distanciar do Wikileaks, afirmando que editou tudo com muito cuidado para não expor operações de inteligência, para oferecer alvos aos terroristas e, no caso de diálogo com diplomatas, não expor a vida de oposicionistas em países ditatoriais.
A história conta todos os choques entre o jornal e Julian Assange, inclusive como ele reagiu furioso à publicação de seu perfil. Assenge, afirma Keller, nem é um associado nem um colaborador: apenas uma fonte com suas impurezas. Adiante, Assange é descrito como um personagem de Stieg Larsson, o escritor best-seller sueco que mistura contracultura, hackers, conspirações de alto nível e sexo.
O primeiro contato com Assange, feito em Londres por Eric Schmitts, que foi estudar o material, descreve Assange como um homem com cheiro de quem não toma banho há dias. O Wikileaks exigiu dos jornais um embargo, algo bastante comum na distribuição de documentos. Embargo, nesses casos, marca uma data em que a publicação pode ser feita. O que dá mais tempo para estudos e apurações.
Toda a descrição do New York Times está voltada para sua própria defesa. Os cuidados em cada material, a lembrança dos repórteres do jornal assassinados em missão, o curso da narrativa indicam que receberam muitas e pesadas críticas. O jornal procura se distanciar um pouco até dos próprios associados na empreitada, como o Guardian, que tem uma posição mais à esquerda.
O relato, apesar de seu tamanho, deve estar circulando em português nos jornais do fim de semana. Vale a pena conferir ou então esperar a publicação de Segredos Abertos: Wikileaks, Guerra e Diplomacia Americanas . É a cobertura completa e atualizada do New York Times que será oferecida em forma de e-book.
Não creio que, apesar das minúcias, o relato do New York Times vai convencer de que fizeram a coisa certa porque o tema dividiu muito. Na verdade são poucos os jornalistas no mundo que diante de uma oferta como a do Guardian- 500 mil documentos secretos – diriam não, obrigado.

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