terça-feira, abril 27, 2010

Deve-se tirar lições de atividades como a venda de medicamentos falsificados nas feiras livres. Se há vendedores desse nível é porque há consumidores

PERIGOS DA AUTOMEDICAÇÃO
EDITORIAL - JORNAL DO COMMERCIO (PE) - 26/4/2010
Recente matéria deste jornal sobre automedicação trouxe números assombrosos, cuja repercussão deveria fazer parte hoje das agendas de todas as autoridades, porque ali está visto, em poucas palavras, que estamos perante algo mais grave que um problema de saúde pública. Quando a Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas afirma, por exemplo, que a automedicação mata 20 mil pessoas por ano no Brasil, nos coloca entre as nações sujeitas a guerras. Num cotejo superficial, significa que morrem quatro vezes mais brasileiros em um ano vítimas da automedicação que soldados norte-americanos no Iraque em sete anos de invasão. À mesma Associação recorrem estudiosos em teses acadêmicas, mostrando, entre outras coisas, que cerca de 80 milhões de pessoas são adeptas da automedicação, resultado de fatores como o não cumprimento da obrigatoriedade da apresentação da receita médica, carência de informação e de instrução de grande parte da população brasileira. Isso é uma epidemia gravíssima, da qual resulta, seguramente, a dificuldade em melhorar nossos níveis de expectativa de vida. Entre os raros estudos nessa área, há dados impressionantes, como o da prevalência de automedicação das pessoas em pequenos aglomerados urbanos.  Fica até fácil entender o que acontece nesses aglomerados, onde faltam médicos, hospitais, às vezes até farmácias. Daí decorrem graves consequências, que vão da inclusão nas estatísticas de morbidade por intoxicação com medicamentos, até o custo com a transferência de doentes para outros centros urbanos, a superlotação de hospitais com repercussão na qualidade do serviço de saúde e no custo que termina contribuindo para tirar de grande parte da população carente a possibilidade de contar com mais postos de saúde, com mais equipamentos hospitalares, e por aí vai. 
Há, nesse problema, uma soma enorme de questões a serem respondidas, a começar pela ausência de estudos que apontem na direção de políticas públicas apropriadas, de onde saiam medidas capazes de dificultar a prática da automedicação, a começar, mesmo, por mais rígidos controles – como os que estão sendo ensaiados hoje pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com a obrigatoriedade da retenção da receita de antibiótico no ato da compra.
 A cada dia que passa, literalmente, torna-se urgente tomar medidas nessa área, como a identificação dos fatores predominantes, o que leva os indivíduos à prática da automedicação, o peso que representa o extraordinário acesso a informações que os modernos meios de comunicação permitem, como, por exemplo, a possibilidade de acesso a informações farmacológicas através da grande massa de dados sobre medicamentos na internet. Evidente que essas informações têm fundamentação científica e se destinam a público específico, mas também podem chegar com facilidade ao curioso, ao hipocondríaco.  Qualquer trabalho na direção do controle dessa epidemia nacional há de levar em conta que o nosso País tem um número de farmácias maior que o padrão médio de outros países e nenhum controle mais rigoroso sobre a venda de medicamentos, até aqueles que trazem tarjas vermelhas, teoricamente dependentes de receita médica. O que pode parecer um receituário fruto da tradição, sem qualquer implicação, sem sequelas, a prescrição também pode conter gravíssimas consequências, gerando doenças crônicas com repercussão para o resto da vida. Além de todas as evidências dos males que pode causar a automedicação, deve-se tirar lições de atividades como a venda de medicamentos falsificados nas feiras livres. Se há vendedores desse nível é porque há consumidores, numa combinação que dá a ideia precisa da urgência com que esse problema tem que ser abordado em nosso País. Quem sabe, até fazer parte da campanha eleitoral que se avizinha.

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