sábado, maio 29, 2010
A Copa salva Serra e Dilma
A Copa salva Serra e Dilma
Por Villas-Bôas Corrêa
Os candidatos José Serra e Dilma Rousseff , que se enfrentam na pré-campanha para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ficam devendo à Seleção Brasileira do técnico Dunga a salvação do ridículo em que se afundavam no bate-boca sobre coisa nenhuma. A candidata Marina Silva não aspira a mais do que a coerência de sua luta na defesa do meio ambiente. Já o candidato oposicionista, o ex-governador tucano de São Paulo, José Serra, e a candidata Dilma Rousseff, escolhida e lançada pelo presidente sem dar a mínima importância ao PT, jogam as ambições e os sonhos pela cadeira no Palácio do Planalto.
Até aqui, por falta de coisa melhor, Dilma bate na tecla de continuadora de Lula e dos programas sociais, como o Minha Casa Minha Vida para a construção de milhões de residências populares ao preço de penca de bananas e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que escancara as portas do paraíso. Serra esperou o prazo final da desincompatibilização para confirmar a candidatura, carimbada pelo PSDB e tenta recuperar a liderança nas pesquisas, ora dividida com com Dilma. Francamente, munição discutível para uma pré-campanha de candidato à sucessão de Lula, com a popularidade passando da lua em disparada para o infinito.
Antes que a zombaria contaminasse candidatos e candidaturas, a Seleção Brasileira alçou voo, desfilou por Brasília em volta de cinco horas para ser recepcionada pelo presidente Lula e pela primeira-dama, Marisa Letícia, em meia hora de descontração simpática. Lula não precisa fingir que gosta de futebol, peladeiro desde a infância, torcedor do Corinthians e do Flamengo e que ainda dá os seus chutes nos rachas na Granja do Torto.
Com a Seleção ninguém pode. Até a estreia contra a Coreia do Norte (15 de junho), cada dia dos craques será acompanhado, sob o controle de Dunga, pela população de olhos grudados na telinha. Com os amistosos para garantir assunto para as conversas e discussões contra Zimbábue (dia 2) e Tanzânia (dia 7), adversários escolhidos com as cautelas para evitar qualquer contratempo Se a taça do hexacampeonato coroar o esforço, uma quinzena será pouco para as comemorações em Brasília e em todos os estados. Só depois, a murcha pré-campanha interrompida terá que dar o ar da sua graça. À dupla de favoritos faria bem uma recauchutagem. Serra está subindo o tom em cada discurso para marcar o seu lugar na oposição. Tática sem alternativa, mas de eficiência discutível. Lula não é candidato, mas o pajé da candidata Dilma.
Os candidatos à reeleição a mandatos parlamentares, para mais quatro anos de fruição de um dos melhores empregos do mundo, com pouco o que fazer e a penca de escandalosas mordomias – algumas com a mancha de uma punga no cofre da Viúva – estacam à porta de Brasília e dão meia-volta para não enfrentar a crise ética, moral que contamina a cidade construída para ser o Distrito Federal, a capital administrada por gerente de livre nomeação do presidente da República. E que desde a inauguração precipitada, antes de estar pronta, transformou-se na inacreditável baderna dos mais de 3 milhões de habitantes, dez vezes mais do que os 300 mil do previsto no plano de Lúcio Costa.
A crise é Brasília. Sem enfrentá-la com a reforma política, que todos prometem até serem eleitos e depois esquecem com o maior descaramento. O presidente Lula desfrutou da solução perfeita: tem casa e palácio em Brasília, e lá pouco para. E com os mais de 100 dias por ano em viagens pelo mundo, conquistou a popularidade nos cinco continentes. Se a Seleção de Dunga chegar à final, Lula dificilmente resistirá à justa tentação de correr o risco de assistir à decisão do hexacampeonato na tribuna de honra. E de voltar ao Brasil no mesmo avião dos seis vezes campeões do mundo. Nem precisará fazer campanha: Dilma será eleita. E aí começa outro capítulo da história de uma campanha presidencial, que será decidida pelo voto que não será conquistado apenas pelas promessas desacreditadas, mas pela Seleção que reuniu os craques brasileiros espalhados pelos grandes times do mundo.
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