sábado, maio 29, 2010

EUA: Brasil sabia que acordo seria rejeitado

EUA: Brasil sabia que acordo seria rejeitado
Altos funcionários do governo alegam que carta de Obama não instruía Lula sobre negociação em Teerã
Fernando Eichenberg

WASHINGTON. Para o governo americano, Brasil e Turquia mediaram o acordo nuclear com o Irã já cientes de que o documento não seria aceito por Washington. Ontem, autoridades dos Estados Unidos garantiram que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e os líderes turcos tinham consciência de que permitir ao Irã enriquecer urânio a 20% em seu território - como viabiliza o Acordo de Teerã - era um violação da resolução do Conselho de Segurança da ONU e algo inaceitável para o presidente Barack Obama e aliados.
- Desde fevereiro, a secretária Hillary Clinton vem mantendo discussões detalhadas com o ministro Amorim sobre essa questão - afirmou um funcionário do governo.
Por que, então, essa exigência crucial não foi mencionada na carta enviada por Obama ao presidente Lula, datada de 20 abril, duas semanas antes da assinatura do acordo em Teerã, em 17 de maio?
- Não havia necessidade de colocar essas questões na carta. Brasil e Turquia sabiam muito bem da importância disso. Não podíamos instruí-los sobre como negociar - procurou explicar outra fonte do governo americano.
Os funcionários se recusaram a comentar, no entanto, sobre a real finalidade da correspondência remetida por Obama ao Palácio do Planalto, não alinhada com as enérgicas declarações da secretária de Estado, Hillary Clinton, contra a viagem de Lula a Teerã.

Irã teria duplicado seu estoque de urânio
A Casa Branca afirmou que não solicitou que Brasil e Turquia negociassem em seu nome e que só soube dos resultados do Acordo de Teerã quando foram divulgados publicamente. Diplomaticamente, o governo americano repetiu reconhecer o esforço turco-brasileiro para se chegar a uma solução, mas, "infelizmente", não vê no acordo assinado em Teerã garantias e respostas às principais preocupações da comunidade internacional.
Para Washington, o governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad usou o acordo costurado por Brasil e Turquia para evitar a aplicação de novas sanções por parte do Conselho de Segurança da ONU.
Segundo a Casa Branca, os documentos que mostram as intenções bélicas nucleares do Irã foram encaminhados aos países envolvidos nas negociações.
- Brasil e Turquia receberam relatórios da inteligência americana e também da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) com dados suficientes para revelar as verdadeiras motivações do programa nuclear iraniano ? disse uma das fontes governamentais.
As autoridades alegam que, desde setembro último, o Irã praticamente duplicou seu estoque de urânio enriquecido, e se nada for feito para interromper esse processo, em curto prazo o país já terá condições de produzir uma bomba nuclear.
Os americanos sustentam que desde o início do governo Obama, negociações foram entabuladas com Teerã pela via diplomática, mas sem resultado.
- Nunca houve um volume tão grande de encontros e troca de cartas desde os últimos trinta anos, mas os iranianos sempre bloqueavam quando se chegava ao tema nuclear - justificou um funcionário.
Ontem, os EUA manifestaram sua determinação em prosseguir com a política de aplicação de novas sanções, a única chance, segundo as autoridades americanas, de fazer com que o Irã se sente à mesa "para negociar seriamente" com o grupo do P5+1 - os cinco países membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, mais a Alemanha.

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