quarta-feira, maio 05, 2010

Pra Copa ou pra guerra?

Pra Copa ou pra guerra?
Zuenir Ventura - O Globo - 05/05/2010

De Tostão, ex-craque da bola e agora craque da crônica, sobre um certo clima belicoso que está cercando a preparação da seleção para a Copa: “Parece que o Brasil vai para a guerra, e não para uma disputa esportiva”, comenta ele, criticando a exploração do nacionalismo e do ufanismo em comerciais que exigem que os jogadores sejam guerreiros. “É a palavra da moda. Muito mais importante do que saber jogar futebol é ser guerreiro.” O cronista tem razão. Vi alguns desses filmes e o apelo mais usado não é ao talento ou à habilidade, mas à raça, à garra, à paixão.
São gritos de guerra. Em um, Dunga aparece dizendo: “Eu falo pouco, mas falo como um guerreiro. Eu quero raça, essa é a nossa hora.” Em outro, a afirmação é que “é preciso mais do que talento com a bola pra ser campeão: é preciso garra” (na verdade, é o inverso: mais do que garra, é preciso talento). O curioso é que a rima para guerreiro não é, por exemplo, artilheiro, mas “brahmeiro”, outra palavra da moda.
Leio na internet alguém do marketing da empresa explicar que “brahmeiro é o brasileiro trabalhador que batalha pelos seus sonhos com garra e determinação”. E que a mensagem dos comerciais “é despertar a atitude guerreira da seleção e de todos os 190 milhões de brasileiros e mostrar que os jogadores são guerreiros em campo assim como os brahmeiros são na vida”.
Será isso mesmo? Quando se pretende diminuir a violência nos estádios e promover a convivência pacífica entre as torcidas, não parece muito pedagógico — mesmo gostando de cerveja — transformar os torcedores em valentes bebedores e os jogadores em bravos soldados prontos para a Copa, ou melhor, para a guerra.
De Carlos Alberto Lopes, coordenador geral da Operação Lei Seca, sobre minha última coluna: “Ainda que o seu bom senso não precise, gostaria de dizer que a Operação Lei Seca não é contra a bebida e sim a favor da vida. Os nossos cadeirantes, exemplos vivos da violência do trânsito, não vão às boates, bares, restaurantes e casas de shows dizer para as pessoas não beberem. Eles vão dar os seus testemunhos e dizer que se as pessoas desejarem beber que o façam, mas que não dirijam, que não se matem e/ou aos seus semelhantes (...). De 19 de março de 2009, quando a deflagramos, até o final de março de 2010 conseguimos evitar, segundo o Grupamento de Socorro de Emergência do Corpo de Bombeiros, que 4.875 pessoas fossem vitimadas no trânsito, com ferimentos, mutilações e/ou mortes.” Nada mais sensato.

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