quarta-feira, junho 09, 2010

As lições, depois da tempestade

As lições, depois da tempestade
Editorial, Jornal do Brasil

RIO - As chuvas de abril provocaram um rastro de destruição que até hoje, dois meses depois, o Rio de Janeiro não esqueceu. E, provavelmente, nem esquecerá. As águas, a lama, a nuvem de poeira em seguida já passaram. Mas os episódios trágicos deixaram um saldo de 262 mortes, milhares de desabrigados, prejuízos e clareiras abertas nos morros como se fossem feridas que levarão tempo para cicatrizar. Acima de tudo, os temporais de abril precisam deixar lições.
Nem tudo, talvez muito pouco, se deveu à força da natureza. Quais foram as principais causas, o que poderia ter sido evitado, o que deve ser feito para que a história não se repita? Esse foi o tema do seminário Chuvas de abril, lições e soluções, promovido anteontem pelo Jornal do Brasil e pelo Clube de Engenharia, que reuniu especialistas e autoridades como o ministro das Cidades, Marcio Fortes.
Falta de planejamento urbano; ausência de uma política habitacional; descaso, quando não incentivo, do poder público em relação à ocupação irregular das encostas – vários são os fatores que contribuíram para potencializar a tragédia anunciada.
Algumas razões, as mais óbvias, são conhecidas e foram amplamente discutidas no auge dos acontecimentos. Outras, no entanto, representam ações preventivas menos consideradas. Marcio Fortes, por exemplo, ressaltou que, quando se trata de saneamento básico, a intervenção não deve ficar restrita ao fornecimento de água e rede de esgoto. É preciso observar também a macro e a microdrenagem, lembrou o ministro das Cidades.
O presidente do núcleo Rio de Janeiro da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos, Ian Shuman, sugeriu a criação de um órgão estadual de monitoramento de encostas.
O investimento em pesquisas geotécnicas é ainda mais importante quando se tem em vista que os deslizamentos ocorreram mesmo em locais onde não havia ocupação irregular. Até em áreas sem moradias houve deslocamento de terras.
A responsabilidade pela fiscalização das encostas, hoje municipal, foi criticada pela secretária estadual do Ambiente, Marilene Ramos. O vice-prefeito, e seu colega de pasta no município do Rio, Carlos Alberto Muniz, anunciou que a cidade terá um “exército” para enfrentar próximos desastres e calamidades, com uma reestruturação e integração da Defesa Civil com outros órgãos da prefeitura.
Que seja assim. E que todas as autoridades responsáveis pela prevenção façam a sua parte, de preferência de modo planejado e que reúna os esforços das três esferas de governo, pois algumas tarefas são desafiadoras, como a desocupação das áreas de risco. Isso requer investimentos habitacionais de relevo associados a uma relação confiável com as comunidades. Afinal, a inoperância e a demagogia não podem dar lugar, no extremo oposto, ao desrespeito e à coação às populações vulneráveis.
FOTO: O gramado do Maracanã inundado depois das chuvas de abril de 2010.

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