quarta-feira, junho 09, 2010

Em contexto: Por que as praias estão sumindo

Em contexto: Por que as praias estão sumindo
Para enxergar além dos fatos
REDAÇÃO ÉPOCA
TRAGADA
Uma casa na Praia da Armação engolida pela maré. As barreiras podem ser a causa


As imagens da semana passada, de casas sendo engolidas pelo mar em Florianópolis, não são efeito do tão temido aquecimento global. Mas são, sim, efeito da ação humana. Segundo geólogos, as águas avançam ali por causa da construção de barreiras de pedra ou molhes. Na Praia da Armação, a faixa de areia que há dez anos tinha 50 metros quase sumiu. “As construções interromperam a dinâmica normal de deposição e retirada de areia”, afirma Rodrigo Sato, geólogo e coordenador do estudo que identificou o problema.
Ao longo do ano, as marés e os ventos retiram areia de uma praia e a levam para outra. É uma situação que os especialistas chamam de equilíbrio dinâmico: a quantidade de areia levada pelo mar é equivalente à quantidade trazida. A barreira de pedras interrompe esse fluxo. A areia que deveria se mover fica retida. “É como uma conta bancária: quem saca muito e não deposita nada fica sem dinheiro”, diz Paulo César Rosman, professor de engenharia costeira da Coppe, a pós-graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A construção do Porto de Mucuripe, em Fortaleza, nos anos 1940, teve efeito similar. Como o litoral do Ceará é de mar aberto, sem portos naturais como enseadas e bacias, foi necessário construir uma baía artificial. Um muro de pedra na ponta da praia que avançou 2 quilômetros mar adentro rompeu o fluxo de sedimentos. Resultado: além de o acúmulo de areia provocar assoreamentos no porto, a faixa de areia da praia vizinha, a do Futuro, aumenta a cada ano.
No caso das duas praias catarinenses, o molhe foi construído para facilitar a vida dos pescadores. A foz do rio era rasa e dificultava a entrada dos pesqueiros. Além da Praia da Armação, o efeito é sentido na praia vizinha, do Matadeiro, onde a faixa de areia aumentou. A solução seria demolir as barreiras. “Ainda assim, demoraria 30 anos para recuperar a areia”, diz Sato.
Para engordar a faixa de areia seria necessário dragá-la de algum lugar – como foi feito nos anos 60 em Copacabana. Lá, quando a maré subia muito, a praia desaparecia, e o mar invadia ruas e avenidas. Toneladas de areia foram depositadas para alargar a faixa de praia. “É uma forma de repor o estoque retirado, criando uma espécie de duna”, diz César Rosman. “É um jeito fácil e barato de consertar a intervenção humana.” 

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