quarta-feira, junho 09, 2010

Vale a pena Obama ser “durão” na política externa?

 Vale a pena Obama ser “durão” na política externa?
FAREED ZAKARIA
é colunista e editor-chefe da edição internacional da revista Newsweek e escreve quinzenalmente em ÉPOCA

Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras. Mas a imagem recente do primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, abraçando Mahmoud Ahmadinejad, do Irã, gerou milhares de comentários. Raramente uma fotografia irritou tanta gente. O alvo da maior parte das críticas, no entanto, foi um homem que nem sequer estava na foto. “O crédito por essa catástrofe é todo do governo Obama”, escreveu o The Wall Street Journal.
O colunista conservador Charles Krauthammer, do The Washington Post, foi menos contido. Para ele, “aquela foto – um desafiador e triunfante ‘toma esta, Tio Sam’ – é um veredicto acachapante sobre a política externa de Obama”. Diz Krauthammer: “Ela demonstra como potências em ascensão, aliadas tradicionais dos Estados Unidos, decidiram que não há nada a perder ao se alinhar a inimigos dos americanos e nada a ganhar ao se unir a um presidente dado a desculpas e apaziguamento”.
Essa é agora a linha de ataque estabelecida contra a política externa de Barack Obama. Ele é muito mole, e outros países estão se aproveitando dele. Primeiro, foram os russos, os chineses e os iranianos. Depois, brasileiros e turcos.
Isso reflete em parte um padrão familiar de crítica contra o presidente americano. Coisas ruins acontecem no mundo, e os americanos se viram para a Casa Branca: “Como você pôde deixar isso acontecer?”. Os críticos estão bravos, por exemplo, porque Obama não fez a Revolução Verde triunfar no Irã. Mas o regime tem uma repressão eficiente porque possui recursos, usando armas e dinheiro para se manter no poder. Também tem um apoio significativo entre os pobres, os velhos e os que estão nas áreas rurais. Não é um regime como o da Coreia do Norte, que sobrevive apenas por sua brutalidade. Os 118 países que compõem o bloco não alinhado aprovam rotineiramente soluções que apoiam Teerã na batalha sobre o programa nuclear. Um discurso mais belicoso de Obama não faria o regime ruir.
Não será sob ameaças dos EUA que o Brasil e a Turquia vão cooperar na questão nuclear do Irã
Os conservadores acreditam que Obama deva ser mais durão e mostrar a esses outros países que os EUA não estão brincando. Há só um problema: essa política já foi muito testada e falhou completamente. O governo de George W. Bush definiu sua política externa como agressiva. “É melhor ser temido do que amado”, costumava dizer Dick Cheney, o vice de Bush, citando Nicolau Maquiavel (1469-1527). O ex-secretário de Defesa Donald Rumsfeld escolheu uma fonte menos “cabeça”. Cita frequentemente uma frase atribuída ao gângster Al Capone (1899-1947): “Você vai mais longe com uma palavra amável e uma arma do que só com uma palavra amável”.
Nós esquecemos os resultados dessa política externa viril? Os aliados mais antigos dos EUA na Europa se viraram contra os americanos. A Turquia é um bom exemplo aos Estados Unidos de como não lidar com um aliado. O governo Bush tratou o país com uma mistura de mão pesada e arrogância, fazendo ameaças caso os turcos não permitissem que soldados americanos atacassem o Iraque a partir da Turquia. Aparentemente ignorando o fato de que esse país se tornara uma democracia próspera e que 95% da população se opunha à guerra contra o Iraque, Bush foi surpreendido quando o parlamento turco votou “não”.
Há uma tendência que os críticos de Obama não perceberam ainda. Países como a Turquia e o Brasil (e a China e a Índia) têm crescido economicamente nos últimos 20 anos. Em 1995, os países emergentes somavam um terço da economia global. Neste ano, responderão pela metade. São politicamente estáveis e cada vez mais decididos a desempenhar um papel maior no palco mundial. Sob essas circunstâncias, a ideia de que Obama só precisa usar mais o peso dos EUA é tola e perigosa. O Brasil e a Turquia não se tornarão mais cooperativos se Washington os ameaçar mais. A tarefa dos EUA é achar meios de fazer parcerias e convencê-los de que há um interesse comum por um mundo mais estável. E Al Capone não é exatamente um modelo de como fazer isso. 

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