domingo, junho 20, 2010

Avenida Mem de Sá

Avenida Mem de Sá
Paulo Pacini - Coluna Rio Antigo – Jornal do Brasil - 15/06/2010
Por mais de duzentos anos, o acesso à zona norte do Rio foi limitado pela presença de vários obstáculos naturais, alguns deles intransponíveis. A região conhecida hoje como Cidade Nova, indo do Campo de Santana até a Praça da Bandeira, não era mais que um pântano, onde as águas do mar se misturavam com as dos vários cursos d'água que lá desembocavam. Seguir adiante pelo mangue, portanto, era impossível. A alternativa restante, fora a via marítima, era uma estrada começando na Lapa, junto ao Morro do Desterro (Santa Teresa). Chamado de Caminho para o Engenho dos Padres e depois Matacavalos, a atual rua do Riachuelo escapava dos alagados por ter sido aberta em uma cota mais alta, na beira do morro.
Trecho inicial da Av. Mem de Sá na Lapa, demolido em 1974
Todo terreno situado entre esta rua e a região do Campo de Santana era um brejo, alimentado pelas águas que desciam dos morros de Santo Antônio, Santa Teresa e Pedro Dias, conhecido posteriormente como morro do Senado. Na verdade, o trecho desde o morro de Santo Antônio até onde era a Lagoa da Sentinela (cruzamento da rua Santana com Riachuelo e Frei Caneca) pertencia a uma única família, a de Pedro Dias Paes Leme (neto do bandeirante Fernão Dias), que no século XVIII foi fidalgo da Casa Real e guarda-mor das minas. Seus descendentes receberam a enorme propriedade, composta majoritariamente, entretanto, por terrenos pantanosos. Na parte seca estava o citado morro que, iniciando na rua dos Inválidos, só terminava na rua Santana, tendo como outros dois limites em seu entorno a rua do Riachuelo e o Campo de Santana.
Ao ser reconstruído o aqueduto (Arcos), por volta de 1750, foi iniciado um longo processo de drenagem, e, nos anos seguintes, surgiriam as primeiras ruas do novo trecho incorporado à cidade, como as do Lavradio, Inválidos, Resende e Senado. Contudo, só em meados do século seguinte os pântanos iriam desaparecer. Algumas décadas após, começaria o desmonte do morro do Senado, cujas terras foram utilizadas em outros aterros, e em seu lugar agora abria-se uma enorme área livre, rapidamente ocupada.
Este era o cenário quando Pereira Passos assumiu a prefeitura do Distrito Federal, e, dentre as várias obras projetadas, previa-se uma nova via de acesso à zona norte, passando pelos antigos pântanos e morro de Pedro Dias. Homenageando Mem de Sá, governador que transferiu em 1567 a cidade para o Morro do Castelo e iniciou a colonização de fato no Rio de Janeiro, a nova avenida interceptaria as principais ruas do bairro, seguindo até o início do Catumbi em linha reta, encontrando-se no final com a Rua do Riachuelo e Frei Caneca. A obra foi decisiva para o desenvolvimento local e facilitou o trânsito dos bondes, que faziam a ligação do bairro com o resto da cidade.
Houve um grande surto de novas construções, e até hoje podem ser contemplados os belos sobrados centenários, muitos deles em estilo art-nouveau, a adornar a avenida, formando um conjunto arquitetônico homogêneo e valioso, merecedor de cuidados que garantam sua preservação futura.

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