domingo, junho 13, 2010

A fruta dos gêmeos

A fruta dos gêmeos

Em Montes Claros, a popularidade do pequi pode estar por trás do mistério da duplicação de irmãos

por Guilherme Rosa – Revista Galileu
Crédito: Ricardo Martins
O pequi é uma fruta cheia de segredos. Debaixo de sua polpa suculenta, ele esconde um caroço repleto de espinhos que se fincam na boca dos mais afoitos, que o atacam às dentadas. Os habitantes da cidade de Montes Claros, norte de Minas Gerais, já trazem do berço a habilidade de raspar a fruta com os dentes, protegendo as gengivas e a língua desses espinhos. De acordo com uma lenda local, ele seria um potente afrodisíaco, responsável pelo grande número de gêmeos na região. Agora, especialistas da Universidade de Nova York querem desvendar esse mistério. 
Enquanto no resto do Brasil a média de gêmeos fica em torno de 1,5% da população, em Montes Claros os pares de irmãos representam de 3% a 4% dos moradores da cidade, que tem 363 mil habitantes. Intrigados, pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, criaram ali a Associação de Gêmeos do Norte de Minas Gerais, que já vai completar uma década. “Precisávamos saber se a cárie dental tinha um componente genético. Para isso, o ideal era estudar uma grande população de gêmeos e comparar a incidência do problema em pessoas com o mesmo genoma”, diz o brasileiro Walter Bretz, Ph.D. em epidemiologia oral pela Universidade de Michigan, professor do Departamento de Cariologia da Universidade de Nova York e responsável pela associação. 
Crédito: Ricardo Martins
O projeto ganhou patrocínio do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos e hoje conta com mais de 1.200 gêmeos associados, além de receber pesquisadores de todo o mundo. Durante esse tempo, seus cientistas já publicaram diversas pesquisas, como as que comprovam o componente genético da cárie e do mau hálito. Há mais ou menos um ano, no entanto, eles acabaram dando atenção para os boatos sobre o pequi. Investiram, então, em descobrir se a tal fruta tem mesmo essa capacidade de elevar a incidência de gêmeos e levaram amostras para Nova York, a fim de alimentar ratos de laboratório com ela. “Podemos ver se nascem mais gêmeos, analisar a velocidade do esperma e a frequência de coito", diz Walter. Os pesquisadores podem acabar descobrindo alguma substância na fruta que interfira na reprodução e na ovulação. Mas, por ora, ainda não há fatos que indiquem que os poderes afrodisíacos e duplicadores do pequi sejam mais do que lenda.

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