segunda-feira, julho 26, 2010

Tema em discussão: A imagem da Polícia Militar - Reformas profundas

Tema em discussão: A imagem da Polícia Militar
Nossa opinião – O Globo
Reformas profundas

Depois de atropelar Rafael Mascarenhas, dentro do túnel interditado, Rafael Bussamra foi parado pelo sargento da PM Marcelo Leal e o cabo Marcelo Bigon, do batalhão do Leblon. A frente do carro de Rafael estava destruída, devido à violência do impacto em alta velocidade e do qual morreria o filho da atriz Cissa Guimarães e do músico Raul Mascarenhas. Mesmo assim, Rafael não foi detido, como deveria. Depois, o pai dele, Roberto, relataria que os PMs pediram R$ 10 mil de “pedágio”. Terminaram embolsando R$ 1 mil.
No espaço de poucos dias, este fato e a morte de um menino de 11 anos, em sala de aula, vítima de bala perdida, em mais uma operação desastrada da PM, demonstrariam que muita coisa ainda precisa ser mudada na corporação.
Somem-se a esses recentes exemplos de malfeitorias o varejo de soldados que fazem vista grossa para achaques de flanelinhas e motoristas de vans em pontos turísticos, e a corrupção por atacado da banda podre. Adicione-se, ainda, a injustificável filosofia operacional que faz da PM fluminense uma das que mais matam no país — e uma das que sofrem mais baixas no combate ao crime — e temse o quadro quase inteiro das metástases que ameaçam contaminar o que resta de sadio na tropa. A radiografia se completa com algumas demonstrações de leniência que emanam de postos de comando ou de órgãos tutores da imagem da corporação, ambas as instâncias quase sempre relevando suas atribuições correcionais em favor do corporativismo nos casos de mau comportamento dos comandados.
O diagnóstico é transparente: a PM, constitucionalmente encarregada de zelar pela segurança da população, tem se desviado desse princípio com preocupante assiduidade. Não se trata de fenômeno pontual. A polícia que se afasta das funções pelo excesso ou pela inação, que fornece quadros para o banditismo (vide milícias e conhecidos bandeamentos para o campo do tráfico de drogas), tem produzido tristes crônicas com inesgotáveis exemplos de maus modos.
Tanto quanto aumentam a sensação de insegurança da população, eles maculam a imagem de uma corporação cimentada em dois séculos de história de serviços prestados à sociedade.
Mas, felizmente, a PM que exorbita e se imiscui com o crime é o outro lado de uma corporação que tem procurado retocar a imagem. São provas disso ações que, diferentemente da troca de tiros que resultou na morte do menino de 11 anos, procuram levar em conta a segurança dos moradores. Há bons exemplos de operações bem-sucedidas, precedidas de ações de inteligência e investigação, com resultados positivos na guerra contra a criminalidade.
Admita-se, também, que a polícia passou a punir desvios de conduta — embora não com a constância necessária. E, sobretudo, deve-se reconhecer no programa de instalação de Unidades de Polícia Pacificadora em áreas subjugadas pelo crime organizado o paradigma da PM com a qual a sociedade espera contar sempre.
Existe, portanto, um quadro preocupante a ser enfrentado na Polícia Militar do Rio, mas há movimentos que evidenciam um processo em curso de reforma administrativa, operacional e de mentalidade. Deve-se lutar, tendo sido feito o diagnóstico que impõe novos métodos, é por mudanças realmente profundas, estruturais.
Elas passam, por exemplo, pela revisão do processo de seleção, para inibir o acesso daqueles que veem na PM um degrau para alcançar interesses distintos aos da corporação.
Também por uma política salarial compensatória, pela eliminação da banda podre (a exemplo do que foi feito, com sucesso, na reforma da polícia colombiana), pela manutenção do banimento de influências políticas na nomeação de comandos, e pela implantação de diretrizes operacionais em que a inteligência tenha papel destacado. São ações realistas, mas que dependem de vontade política.

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