quinta-feira, agosto 26, 2010

O voto dos inocentes úteis

O voto dos inocentes úteis

Klauber Pires - Instituto Millenium

O voto facultativo a cidadãos que não conheceram o ônus de trabalhar, produzir, defender a pátria e responder por seus atos remete-nos perigosamente ao caminho da tirania travestida de idealismo juvenil. A nação precisa repensar sobre isto.
O filósofo Hans Hermann-Hoppe tem horror à democracia. Ele a tem como o mais tirano dos regimes. Eu concordo com muitos dos seus argumentos, entretanto, não consigo enxergar no meu estreito horizonte de conhecimento algo melhor. No fim das contas, parece que todos os regimes falharam. Desde a Grécia, tivemos um rodízio entre os impérios, as monarquias, as aristocracias, as repúblicas e as democracias.
Confesso que já bati no anarco-capitalismo e voltei. Se me perguntarem, atualmente eu me manifestaria como um micronarquista (mícron + arquia), isto é, optaria por um regime tal ainda menor do que o comumente defendido pelos minarquistas. Isto porque defendo que até mesmo os serviços de produção de segurança (polícia, judiciário e correição) podem ser estatais.
Não defendo o anarquismo completo por uma questão, entre outras, que me pareceu terminativa: uma sociedade anárquica, por si só, até que pode parecer viável, mas ela não tem sustentação contra um estado agressor. Se há uma coisa em que os estados são eficientes, é a capacidade de agredir outros povos ou os seus próprios cidadãos. Os estados conseguem a unidade e isto mesmo que seja à força, e investem vastos recursos na produção da máquina de guerra por tempo indefinido. Uma sociedade anárquica não teria a iniciativa de gastar a fundo perdido e permanentemente com a sua proteção externa. Em alguns artigos que li, seus defensores citam movimentos de resistência bem-sucedidos. Todavia, a resistência é quase sempre um ato de concessão por parte do agressor: se ele quiser exterminar a população, esta se anula.
Pensar em quem pode votar tem sido uma preocupação com os idealizadores das democracias. Desde os primórdios, os eleitores eram os homens com um certo padrão mínimo de propriedade privada. Certamente, este era um meio quase eficiente de proteger a propriedade privada. Todavia, a história mostrou que o regime daí derivado tendia a subtrair ilegitimamente a propriedade ou o trabalho dos não-eleitores. Hoje vivemos o momento contrário, e também o oposto se sucede: são os sem-posses os que sugam a propriedade dos que trabalham e produzem.
O fim da guerra de secessão trouxe a liberdade aos negros norte-americanos, e ao mesmo tempo retirou os direitos políticos da maior parte dos brancos do sul. Com uma superioridade numérica inquestionável a favorecer os ex-escravos, veio à tona não somente o revanchismo, mas uma série de desastres provocados por um povo que não entendia patavinas de cidadania e muitíssimo menos de governo. O que talvez fosse necessário seria uma intervenção federal até que os brancos e os negros do sul assimilassem o modelo de democracia dos estados ianques, de modo que o poder lhes fosse concedido aos poucos, primeiro por meio de cargos públicos, depois por meio de eleições municipais e por fim as estaduais.
Dito isto, se nos resta defender um estado mínimo, ainda vejo a democracia como o meio mais viável, embora concorde plenamente que a sua perfectibilidade exija-nos ainda percorrer um longo caminho. Entretanto, mesmo ela tem as suas armadilhas, que são, com certeza, as mais perigosas, porque sempre carregam o desvio de finalidade sob os pretextos mais emotivamente sedutores.
Aqui, então, chego ao problema que pretendo apresentar: teria sido a faculdade de votar desde os dezesseis anos uma estratégia política das esquerdas? Por que não aproveitar os votos dos jovens enquanto eles não mudam de ideia? Acredito firmemente nesta hipótese, e é o que passarei a defender adiante.
Em primeiro lugar, pensemos sobre as tendências naturais desta fase da vida de tomar causas apaixonadamente (não é a toa que os regimes mais totalitários se valeram de suas juventudes: a juventude nazista, a fascista e a comunista); reflitamos em seguida sobre a educação que estes jovens trazem das escolas, totalmente transformada em centros de doutrinação marxista; somemos a isto a característica da nossa população, cuja faixa etária encontra aí uma representatividade expressiva; e finalmente, tenhamos em conta que o caráter facultativo favorece o comparecimento às urnas dos adolescentes mais militantes, em detrimento dos mais informados ou amadurecidos, que admitem a necessidade de se esclarecerem melhor antes de emitir opinião. Eis a fórmula do sucesso, que tende a desequilibrar a balança entre os adultos.
O mais bizarro em nossa democracia é a concessão de um direito político ativo totalmente divorciado dos respectivos deveres como cidadãos. A inversão dos critérios de cidadania extrapola do mínimo exigível, para se tornar uma cifra negativa: não são mais critérios, mas anti-critérios, pois conferem a pessoas penalmente inimputáveis, inalistáveis para as forças armadas e que nem sequer podem trabalhar o direito de fazerem escolhas válidas para todos os indivíduos. Não me surpreenda que tendam a apoiar as propostas mais inconsequentes – justamente aquelas que as esquerdas mais recorrentemente defendem.
Olhemos para os jovens: como são preconceituosos, ainda mais quando empunham a bandeira do combate ao preconceito! Como são ímpios, notadamente entre os que pregam a tolerância! Olhemos para eles: olhemos como, inseguros, juntam-se como lobos às suas matilhas, que chamam de “tribos” ou “comunidades”, ou qualquer termo da hora; olhemos como tirânicos são os líderes destas matilhas, os machinhos e as femeazinhas “alfa”, ditos “os populares”.
O voto facultativo a cidadãos que não conheceram o ônus de trabalhar, produzir, defender a pátria e responder por seus atos remete-nos perigosamente ao caminho da tirania travestida de idealismo juvenil. A nação precisa repensar sobre isto.

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