segunda-feira, dezembro 27, 2010

Tecnologia e eficiência no saneamento

Tecnologia e eficiência no saneamento
GESNER OLIVEIRA
Com seu gigantesco poder de compra, as grandes empresas de saneamento têm em suas mãos condições de influenciar toda uma cadeia produtiva
O Brasil precisa dar um salto em inovação. Estudo recente divulgado pela Confederação Nacional das Indústrias com 14 países selecionados por suas características econômico-sociais indica que o Brasil ocupa o oitavo lugar no ranking de tecnologia e inovação, atrás de economias emergentes como China, Índia e Rússia.
Considerando-se que o saneamento constitui um dos segmentos mais atrasados da infraestrutura brasileira e que universalização dos serviços requer grande mobilização de capital, é urgente fortalecer as parcerias com centros de pesquisa e inovação, de forma a propiciar tecnologias que aumentem a produtividade das empresas.
Entre os desafios mais importantes estão reduzir as perdas de água e melhorar a eficiência no uso da energia elétrica. O setor de saneamento é um dos maiores consumidores de energia, absorvendo quase 3% da produção do país.
Em relação às perdas, o Brasil apresenta índices altíssimos -em torno de 40%, sendo que em algumas regiões os índices alcançam 60%. É como se uma padaria jogasse fora 60 pães a cada cem produzidos. Esse desempenho diminui o potencial de investimento dos responsáveis pelos serviços. Nos países mais desenvolvidos, as perdas não chegam a 10%.
Ainda no segmento água, há novas tecnologias para o tratamento da água envolvendo membranas filtrantes, que vêm sendo utilizadas em diversos países com grande sucesso e custo decrescente.
Tais procedimentos permitem transformar grande volume de água salobra em água potável, convertendo em realidade comercial uma prática que parecia impensável pouco tempo atrás. O lodo resultante das estações de tratamento tem se revelado útil para fins diversos: queima para geração de energia, adubo e até mesmo bloco de construção.
Ainda em relação ao potencial de geração de energia, é possível aproveitar as diferenças de cotas dos sistemas de represas para a construção de PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas).
Poucos sabem das vantagens da água resultante do tratamento de esgoto na irrigação de lavouras. Repleta de material orgânico, essa água apresenta altos índices de nitrogênio e fósforo, permitindo aumento de até 30% na produtividade de lavouras de cana, milho e tifton.
A Sabesp tem buscado aumentar sua produtividade, reestruturando e fortalecendo sua área de pesquisa, desenvolvimento e inovação. A área ganhou novo time de pesquisadores e firmou parcerias. Com a Fapesp, foi assinado termo de cooperação para sete linhas de pesquisa, envolvendo investimentos de R$ 50 milhões em cinco anos.
Com seu gigantesco poder de compra, as grandes empresas de saneamento têm em suas mãos condições de influenciar positivamente toda uma cadeia produtiva. Grande parte da tecnologia utilizada no setor chega pelas mãos dos fornecedores de materiais, equipamentos e serviços.
Cabe aos dirigentes exigir melhorias contínuas, de modo a obter cada vez mais produtos de qualidade, de menor custo e adequados aos princípios da sustentabilidade.
GESNER OLIVEIRA, economista e professor da FGV-SP, é presidente da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).

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