quarta-feira, maio 26, 2010

Está faltando a força da emoção

Está faltando a força da emoção
25/05/2010 - 23:30 - Por Mauro Santayana
O comparecimento dos três aspirantes à cadeira presidencial, ontem, no encontro promovido pela Confederação Nacional da Indústria, não foi propriamente um debate. Cada um deles exerceu seu monólogo, respondendo apenas às perguntas interessadas dos empresários. Como se tratou de auditório preocupado com seus negócios, os problemas econômicos dominaram a reunião. Todos levaram papéis, mas apenas Dilma Rousseff seguiu o escrito; Marina consultou-os eventualmente; e José Serra deles se valeu para conferir algumas cifras.
Não foi um momento político, mas encontro técnico e burocrático, porque lhe faltou emoção. Combinar emoção e razão, de forma equilibrada, não é fácil, como apontam todos os especialistas no comportamento humano. Quando a razão prepondera, os argumentos não chegam às glândulas da decisão com a força pretendida. Quando a emoção sobrepuja a razão, corre-se o risco de que a demagogia impere, com os efeitos dramáticos que a História oferece. O equilíbrio é difícil, mas necessário aos postulantes e, mais ainda, às sociedades políticas que serão governadas.
Nota-se, até o momento, certo cuidado da parte dos três candidatos. Esquivam-se de ataques mais duros, cada um deles esperando os erros adversários. É lugar-comum concluir que as eleições não se ganham: as eleições se perdem. Os que cometem menos erros levam vantagem. Quando Milton Campos se elegeu governador de Minas, em 1947, seus adversários políticos mas amigos – como costuma ocorrer ali – foram cumprimentá-lo: “Você ganhou, Milton, parabéns”. O vitorioso sorriu, modesto: “Não ganhei. Vocês é que perderam”.
A candidata Marina Silva tentou trazer um pouco de emoção, ao narrar a infância e a adolescência de menina pobre, que consegue deixar o chão do sofrimento mediante o Mobral, que lhe permitiu licença universitária como professora de história. José Serra também o fez: identificou-se com o proletariado de São Paulo, ao lembrar que, menino, morava em uma residência de operários, na antiga vila de trabalhadores construída pelo industrial Matarazzo, na Mooca. Mas o fez com certa curva retórica, ao dizer que essa circunstância o aproximava da indústria: de seu quarto ouvia o barulho de uma máquina que funcionava quase do outro lado da parede.

Ainda que a social-democracia brasileira esteja contaminada – e está – pelo neoliberalismo que imperou durante os dois mandatos de Fernando Henrique, seu candidato não pode ser identificado pessoalmente com as elites tradicionais. Ele procede da imigração italiana pobre. Não se identifica com aquela parcela que, chegando ao Brasil com algum capital, aqui se enriqueceu. Marina vem do chão do povo. Dilma Rousseff, nascida em classe média de Minas – filha de imigrante europeu – identifica-se com a esquerda por sua inegável militância política. Nenhum deles procede, pelo nascimento, da elite, mas a origem de classe, que pode ser uma recomendação, nem sempre é certificado suficiente. Muitos filhos da classe operária se tornaram fiéis aliados dos exploradores, e alguns (bem poucos, é certo), nascidos no fausto, se dedicaram a lutar contra as injustiças do capitalismo predador. Mas é alentador que, depois de um chefe de Estado como o metalúrgico Luiz Inácio, haja candidatos portadores de diplomas universitários, sim, mas sem sobrenomes tradicionais.
Os monólogos de ontem não chegaram ao coração dos eleitores, ainda que tenham sido acompanhados pelas imagens da internet e por algumas emissoras de televisão. Faltou-lhes o calor do contraponto. Talvez por isso, a reação dos eleitores tenha sido moderada, e mais ou menos equilibrada no apoio aos expositores.
Cabe uma nota final sobre os cuidados que Dilma Rousseff tem com sua aparência. É inaceitável que a critiquem por cuidar de sua maquiagem, de seus cabelos e de suas roupas. Apresentar-se bem aos eleitores – e aos anfitriões estrangeiros – é expressão de respeito. Se ela se descuidasse, seria criticada por isso. Na verdade, seus acusadores agem como os clássicos tartufos. Não querendo, ou não podendo, contestar sua honestidade funcional, desconhecer seus méritos de administradora, nem negar sua autenticidade política, só encontram, para criticá-la, a natural preocupação com a maquiagem e o penteado.

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