terça-feira, junho 15, 2010

A Função de Escuta e o Papel de Aconselhamento na Liderança

A Função de Escuta e o Papel de Aconselhamento na Liderança

Para aconselhar biblicamente, o líder precisa saber escutar integralmente e com empatia.

Por: Marcelo Quirino

Qualquer ministério cristão possui a dimensão social (comunhão), a técnica (ministerial) e a bíblica (pastoral). Muitos líderes se concentram somente nas duas primeiras, privando os liderados da relação de edificação e consolação bíblica. 

Para aconselhar biblicamente, o líder precisa saber escutar integralmente e com empatia. Muitas vezes achamos que alguém está escutando de verdade, mas apenas fica em silêncio enquanto seletivamente ouve imbuído de preconceitos

É imprescindível saber que ao mesmo tempo em que o liderado fala, nossos pensamentos de censura falam também. Dê ouvidos apenas à fala do liderado nesse primeiro momento. Outro que falará com você é o Espírito Santo de Deus, esteja atento.

Escutar um liderado é saber que ali há um corpo que fala integralmente. Escutar um liderado é saber que apesar de convertido, é uma pessoa com conflitos interiores, típicos do ser humano.

Ofereça um clima de escuta sem censura, com empatia, aceitação total e interesse. Escutar é uma ciência e possui princípios que devem ser seguidos para que haja eficiência no processo.

Escute muito e forneça o feedback que está compreendendo, independente de estar concordando. Escute evitando conjecturas sobre o caso. Escute a pessoa, sua fala, suas emoções, seus sentimentos e seu corpo, pois este se comunica também o tempo todo.

Utilize uma atenção flutuante, que não seleciona partes da fala para análise paralela na mente. Perguntas que esclareçam a fala do liderado podem ser feitas para a escuta se aprimorar. Intervenções curtas para esclarecer não devem ser feitas no momento em que a fala representa um desabafo.

Para escutar com empatia, coloque-se no lugar do interlocutor. Ele tem o direito de sentir raiva, impulsos violentos e agressivos. O problema é o que se faz com esses impulsos e como os controla.

Não censure os pensamentos inadequados do liderado de pronto. Aborde o tema depois com cuidado, pois quase sempre se perceberá que esses pensamentos nunca seriam postos em ação.

Aumente a capacidade do liderado de olhar para si, para os seus sentimentos, expressões, comportamentos e formas de relacionamentos. Ajude-o a demonstrar expressões, sentimentos, emoções e a elaborar a problemática de maneira objetiva.

Espelhe e resuma a fala para mostrar que a entendeu. Essas técnicas oferecem a possibilidade de demonstrar que ele está sendo acolhido em sua individualidade pelo simples fato de estar sendo escutado com atenção.

Após a escuta integral da problemática principal, ofereça questionamentos que permitam pensar sobre a dificuldade. Ao invés de oferecer conselhos, indague sobre o melhor caminho com base na Bíblia, estimulando a autonomia.

Em casos mais graves é aceito uma atitude diretiva. Em outros, o questionamento resguarda a individualidade e oferece a possibilidade de reflexão, de tomada de consciência e de desenvolvimento de habilidades de decisão.

O processo mental de um liderado diante de uma dificuldade ministerial sempre obedece ao fluxo de percepção, análise, conclusão e decisão. Identifique quais dessas habilidades do ego lhe faltam para proceder ao auxílio psicológico e ao exame conjunto da situação, como um ego auxiliar.

Antes de oferecer uma sugestão, estimule o esclarecimento da sua situação. Muitas vezes, a angústia vem da incapacidade de entender o que se passa consigo mesmo e com o ministério. Estimular o esclarecimento é muito útil na medida em que desenvolve a capacidade de autonomia do ego ao pôr o liderado para buscar o entendimento de sua problemática.

Para ajudar no desenvolvimento dessas capacidades do ego, há algumas técnicas que podem ser utilizadas. A técnica do esclarecimento visa descrever o que se passa nos detalhes. Já a técnica da reflexão, busca ‘os porquês’, ’os para quês’. A técnica de confrontação visa corrigir a fala do liderado e trazer à consciência algum comportamento inadequado de forma mais específica através das indagações.

Isso deve ser feito em momento oportuno, depois que o liderado teve um momento de escuta ativa e empática. Oferecer confrontação logo de início sem antes escutar os desabafos é um grave erro que compromete a capacidade do liderado  de se abrir.

A exposição da Bíblia não é um momento proibido, mas deve ser feito quando a capacidade do liderado escutar já se restabeleceu. Há momentos em que o liderado não escuta, pois o nível de angústia é grande.

Por fim, o líder deve saber distinguir entre liderados que tem um bom nível de amadurecimento e os que precisam apenas de sugestões mais simples e diretas. Liderados com características de autonomia e autocontrole apenas precisam desabafar e ou serem ajudados a pensar.

O líder não deve reduzir o aconselhamento bíblico à prática de conselhos, sugestões de decisões e com pregação, mas o apenas escutar é uma técnica muito poderosa e importante que tem por objetivo ajudar a desenvolver a capacidade de decisão do liderado.

Portanto, o aconselhamento bíblico não deve ser passivo, deve oferecer não só a diminuição da angústia, mas também desenvolver no liderado habilidades de análise e de resolução prática de problemas, promovendo assim a autonomia e a independência psicológica.

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