terça-feira, julho 20, 2010

Aproveitamento econômico da microbiologia

Aproveitamento econômico da microbiologia

Wanderley de Souza, Jornal do Brasil
RIO - Os micróbios constituem o grupo quantitativamente mais importante da terra, correspondendo a cerca de 60% da biomassa existente. Estima-se a presença de 5 x 1.030 e de 3,6 x 1.029 células microbianas no solo e nos oceanos, respectivamente. A sua diversidade é também muito elevada, o que vem sendo mostrado pelas chamadas análises metagenômicas onde o sequenciamento de parte do DNA dos microorganismos encontrados em uma amostra permite estimar o número de espécies diferentes nela existente. As estimativas atuais indicam que menos de 1% do total de microorganismos identificados pode ser mantido em cultura pelos métodos atualmente conhecidos e consequentemente aproveitados para o uso industrial. Tal fato deverá exigir que nos próximos anos novos métodos de cultivo sejam desenvolvidos, visando um melhor aproveitamento industrial de organismos ainda pouco conhecidos e que, possivelmente, sintetizam moléculas ainda não caracterizadas e cujas propriedades ainda não foram identificadas. A diversidade dos microorganismos abre perspectivas importantes na área da biotecnologia básica e industrial. Afinal, estes organismos produzem uma grande variedade de compostos de primeira linha na área industrial, movimentando cerca de US$ 100 bilhões por ano, em todo o mundo. As principais áreas industriais incluem: 1) a indústria de enzimas produzidas por bactérias e fungos produtores de amilase, lipase e proteases; 2) fungos produtores de ácidos orgânicos, como ácido cítrico e ácido láctico; 3) bactérias produtoras de compostos da chamada química fina; 4) bactérias e fungos produtores de antibióticos, como a estreptomicina e a ampicilina; 5) bactérias com ação inseticida, como é o caso da proteína produzida pelo Bacillus thuringiensis; 6) bactérias produtoras de aminoácidos, como glutamato e lisina e de vitaminas, como a riboflavina, entre outros. Apenas a indústria farmacêutica, com a produção de antibióticos, substâncias imunorreguladoras e com ação antitumoral, biopesticidas, etc, movimenta cerca de US$ 25 bilhões por ano. No mundo da indústria química os microrganismos estão envolvidos na produção de aminoácidos, vitaminas, ácidos orgânicos, detergentes, bem como bioconversores e biocatalizadores, com amplo emprego em processos relacionados com a produção de energia e a recuperação de danos ambientais. Por outro lado, a cada dia aumenta o número de enzimas utilizadas em vários processos industriais, criando assim um mercado que movimenta cerca de US$ 2,3 bilhões por ano. Estas enzimas são usadas principalmente em processos industriais relacionados à produção de alimentos, detergentes, material têxtil, couro e papel, para mencionar alguns exemplos importantes. Na área da chamada química fina, sobretudo no que se refere à produção de medicamentos e no setor agroindustrial, o chamado mundo microbiológico movimenta cerca de US$ 55 bilhões por ano. Todas as análises prospectivas apontam no sentido do crescimento desta área.
  No Brasil dispomos de uma grande variedade de biomas com uma rica densidade de microorganismos, como já indicado nos primeiros estudos realizados no país utilizando uma abordagem metagenômica. Aprofundar estes estudos, ampliando-os para todos os ambientes terrestres e aquáticos, é um projeto que deve ser priorizado pelas instituições brasileiras responsáveis pela formação de recursos humanos e pela atividade de pesquisa científica e tecnológica. Certamente novos microrganismos com propriedades especiais, bem como novos produtos de importância industrial produzidos por microorganismos, surgirão. A infraestrutura hoje existente, tanto no que se refere ao sequenciamento de DNA como no que se refere às análises de bioinformática, permite ao Brasil assumir uma posição de liderança nesta área.
Wanderley de Souza é professor titular da UFRJ, diretor de programas do Inmetro, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Nacional de Medicina, ex-secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia e ex-secretário estadual de Ciência e  Tecnologia do Rio.
00:03 - 20/07/2010

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