sexta-feira, agosto 13, 2010

Severo Gomes, o irreverente

Severo Gomes, o irreverente

JORGE BASTOS MORENO
Eleição indireta de 1978, o MDB tenta repetir a saga da anticandidatura de 73, e lança a chapa Euler Bentes Monteiro-Paulo Brossard. Dissidentes da Arena lançam Magalhães Pinto-Severo Gomes. Severo renuncia e ingressa no MDB. Magalhães desiste, disputa a Câmara. O Colégio Eleitoral elege a chapa oficial da ditadura, João Baptista Figueiredo e Aureliano Chaves. 
Quatro anos mais tarde, Severo Gomes aceita disputar o Senado por São Paulo na chapa de Franco Montoro, candidato ao governo de São Paulo. Severo era um dos empresários mais respeitados do país. Homem de vasta cultura, entrou para a vida pública como ministro da Agricultura do governo Castelo Branco e foi demitido do cargo de ministro da Indústria e Comércio do governo Geisel, por suas ligações com movimentos de esquerda e, principalmente, pela sua extrema irreverência. 
Severo, sócio majoritário da fábrica de cobertores Parahyba e um dos primeiros criadores de búfalos no país, animava os salões de festas do empresariado paulista com histórias picantes e maldosas contra a ditadura, seus colegas ministros mais radicais e de muitos generais naquilo que tinham de pior: a burrice. 
Numa dessas, excedeu-se tanto que foi demitido a contragosto por Geisel, que no fundo gostava dele. Mas o ministro, permanentemente monitorado pelo SNI, já estava na mira da ditadura, por causa da sua ação em defesa dos presos políticos e, até mesmo, por proteger foragidos do regime. 
Severo só teve dois inimigos viscerais na vida: o economista Roberto Campos e Eliezer Batista, pai de um dos homens mais ricos do mundo hoje, Eike Batista. Campos e Eliezer eram os dois únicos assuntos que o colocavam no sério. 
Ungido candidato ao Senado por São Paulo, Severo comandava a campanha na região do Vale do Paraíba, onde tinha fazendas. Para Montoro poder, numa noite só, percorrer várias cidades da região, cabia a Severo encerrar os discursos, enquanto o candidato ao governo corria para outro comício. 
Num desses comícios, ao falar a palavra de ordem "Vamos para a vitória", Severo, inadvertidamente, entornou o microfone em direção à boca e engoliu quase meio litro de baba dos quase 30 oradores que o antecederam, entre eles o famoso "Toninho Bafo de Onça", ex-vereador de São José dos Campos. E o incidente ocorreu justamente na hora da palavra de ordem:
— Povo sofrido do Vale da Paraíba, vamos pra..... (com a boca cheia de baba) puta que pariu!
Publicado no Globo de hoje.

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