quinta-feira, setembro 16, 2010

Dólar ladeira abaixo aqui e no mundo

Dólar ladeira abaixo aqui e no mundo
Moeda tem 10ª- queda, a R$ 1,708, e perde para euro e iene
Emanuel Alencar e Bruno Villas Bôas* RIO e NOVA YORK – O Globo
Em mais um dia marcado pela forte intervenção do Banco Central (BC) no mercado à vista — foram retirados de circulação de US$ 1 bilhão a US$ 1,1 bilhão —, o dólar comercial caiu ontem frente ao real pelo 10opregão consecutivo. Lá fora, a moeda americana também teve queda em relação às principais divisas, como iene e euro, enquanto o euro registrou um novo recorde. No Brasil, o dólar recuou 0,46%, a R$ 1,708 na venda, a menor cotação desde novembro de 2009. Os dez dias seguidos de queda da moeda americana representam a maior sequência negativa desde novembro de 2005. Nesse período, o dólar já recuou 2,95% diante do real.
O maior fator continua a ser a oferta de ações da Petrobras, que deve trazer para o país de US$ 20 bilhões a US$ 30 bilhões, de estrangeiros interessados em participar da operação. Pelas estimativas do mercado, o BC já comprou mais de US$ 4 bilhões em leilões nos últimos quatro dias.
Cotação do ouro atinge recorde Para analistas de câmbio, o dólar se aproxima de uma barreira psicológica importante: R$ 1,70. Avaliase que, se esse limite for rompido, o governo pode lançar mão do swap cambial reverso — que, na prática, funciona como uma compra de dólares no mercado futuro — para frear o avanço do real. Outra opção seria o uso do Fundo Soberano para comprar dólares.
Operador de renda fixa e câmbio do Banco Modal, Luiz Eduardo Portella avalia que só resta ao BC atenuar a desvalorização do dólar.
— O BC pode, somente com os leilões no mercado à vista, suavizar essa queda. Não dá para reverter uma tendência. Há uma avaliação de que, caso o dólar rompa a barreira de R$ 1,70, o governo poderá lançar mão do swap cambial reverso para segurar a moeda — afirmou.
Um estrategista de uma corretora nacional, que preferiu não ser identificado, foi na mesma linha: — Como se trata de um fenômeno global, o BC pode fazer um monte de pirueta, mas provavelmente vai acabar engolindo um real mais forte mesmo.
Economistas do Goldman Sachs acreditam que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) pode anunciar em novembro uma nova série de recompra de ativos para estimular a economia americana, informou ontem a agência Bloomberg News. Segundo Jan Hatzius, economistachefe do banco de investimentos para os EUA, o Fed compraria US$ 1 trilhão em papéis do Tesouro.
Essa expectativa, somada a um resultado eleitoral positivo para o governo japonês, fez com que o dólar atingisse seu menor patamar frente ao iene em 15 anos: 82,93 ienes. A moeda americana também perdeu 1,3% em relação ao franco suíço, enquanto o euro avançou 1,1% frente ao dólar, a US$ 1,3019.
E o ouro, considerado um refúgio em tempos de incertezas, marcou um novo recorde histórico: US$ 1.271,70 em Nova York, com avanço de 2%. Esta foi a maior alta diária desde 16 de fevereiro.
— As pessoas estão indo para o ouro por pura confusão — disse à Bloomberg Matthew Zeman, operador do LaSalle Futures Group.
Cresce procura nas casas de câmbio
O tombo da cotação do dólar aumentou a procura da moeda nas casas de câmbio brasileiras. Nos últimos dez dias úteis, o dólar turismo (vendido em espécie no mercado oficial) recuou 3,19%, para R$ 1,82. No mercado paralelo (fora dos meios oficiais), a queda foi mais tímida: de 0,51%, para R$ 1,93 de acordo com dados da CMA.
Segundo vendedores, os clientes estão antecipando compras, mesmo sem ter viagem marcada. E quem volta do exterior prefere guardar as sobras do que revendê-las a um preço baixo.
— A procura está alta, mas não falta moeda nas casas de câmbio. Os bancos estão aumentando a importação de dólares para mentar a oferta — afirma José Roberto Carreira, gerente da Fair Corretora.
Analistas observam que a desvalorização da moeda costuma ser mais lenta nos mercados turismo e paralelo que no dólar comercial, usado em grandes transações entre bancos.
(*) Com agências internacionais

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