segunda-feira, setembro 27, 2010

Subindo o tom

Subindo o tom
Numa tentativa de chegar ao 2º- turno, Marina ataca Dilma Rousseff e José Serra
Henrique Gomes Batista, Fábio Vasconcellos e Natanael Damasceno - O Globo
 No penúltimo debate entre os quatro principais candidatos à Presidência, realizado ontem pela Record, a candidata Marina Silva (PV), numa estratégia de tentar chegar ao segundo turno, criticou fortemente a petista Dilma Rousseff e o tucano José Serra, tentando evitar a polarização entre os dois adversários que, segundo as pesquisas, estão a sua frente na disputa. Logo no início, dirigindose a Serra, a verde afirmou que o PSDB e o DEM haviam criticado o Bolsa Família, e quis saber se o tucano tinha proposta para ampliar os programas sociais. Em resposta, Serra não citou as antigas críticas e afirmou que o Bolsa Família é fruto de políticas sociais iniciadas no governo Fernando Henrique: — Tenho um projeto para fazer da economia brasileira, uma economia forte. Do ponto de vista diretamente social, o meu propósito é fortalecer o Bolsa Família — disse Serra, que também citou sua gestão no governo de São Paulo, dizendo que realizou 110 mil concursos públicos — Nenhum estado gastou no Brasil tanto na área do social quanto nós.
Para Dilma, Marina perguntou porque nada foi feito para evitar que se repetissem denúncias de corrupção na Casa Civil, numa referência ao escândalo do tráfico de influência que levou à queda de Erenice Guerra, sucessora da candidata petista na pasta.
Marina afirmou que a Casa Civil é o “ministério mais importante de todos e tão próximo do presidente”. Dilma reagiu e disse que não houve caso de corrupção na Casa Civil que ela tenha tomado conhecimento e que não tenha sido investigado.
Antes, Dilm a j á d i s s e r a que, se for eleita, os escândalos da quebra de sigilos fiscais na Receita e do tráfico de influência na Casa Civil serão apurados “até o fim”. Marina voltou a carga: —Uma pessoa entrou em um cargo de livre provimento, de sua confiança, e tudo se repetiu novamente.
É lamentável que isso tenha ocorrido ali, bem próximo do presidente da República. O que a senhora fez para que isso não se repetisse? Dilma respondeu de forma dura: - Fiz a mesma coisa feita por você nas várias vezes em que seu ministério teve processos similares, ou seja, pessoas de cargo de chefia acusadas na compra e na venda de madeira que era madeira de desmatamento. Tomei as mesmas providências tomadas por você quando ministra. Você sabe que esses casos ocorreram algumas vezes.
Temos que assegurar que a instituição melhore, fiscalize e puna.
A petista, mesmo quando fazia perguntas, citava números sobre realizações do governo, como a criação de 14,5 milhões de vagas com carteira assinada. Afirmou ainda que 28 milhões de pessoas foram tiradas da pobreza. Na abertura e nas considerações finais citou o nome do presidente Lula.
Serra centrou críticas na forma como o governo federal — muitas vezes chamado por ele de “governo Dilma” — foi loteado e citou o caso da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e da Agência Nacional de Saúde: — A Anvisa foi totalmente loteada.
Tem grupo de senadores que indica diretor da Anvisa. Sabe qual é o resultado? O tempo de aprovação de um genérico triplicou com relação ao período em que eu era ministro da Saúde. É uma coisa incrível.
 O que é isso? É vender dificuldade ou criar dificuldade para vender facilidade? Dilma afirmou que era favorável à meritocracia em todos os órgãos do governo, e aproveitou para atacar a gestão Fernando Henrique: — Eu quero dizer que eu compartilho da avaliação da Marina (que afirmara que o Ibama havia sido sucateado no governo FH). Cheguei no Ministério de Minas e Energia e tinha um engenheiro e 24 motoristas.
Além disso, as agências tinham um papel bastante complicado.
No caso da área de Minas e Energia, as agências estavam bastante precárias. Elas não tinham carreira (funcionários concursados).
Quem criou uma estrutura de cargos e salários com concurso público fomos nós.
O candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, posicionou-se como franco-atirador. Chamou Marina de ecocapitalista e fujona, por propor plebiscitos obre temas polêmicos, como o aborto. Disse ainda que a posição de Serra, de criticar a política de direitos humanos do governo Lula por suas relações com o Irã, era hipócrita.
Segundo Plínio, ninguém desrespeitou mais os direitos humanos que os Estados Unidos. E também atacou Dilma por sua relação com a ex-ministra Erenice Guerra: — No último debate, você (Dilma) ficou muito nervosa com o meu comentário sobre o escândalo Erenice.
A verdade que a corrupção bateu na sala ao lado. Ou você é conivente, ou você é competente. Você vai ter que escolher muita gente. Você tem competência ou vai escolher Erenices? Dilma afirmou que o governo está investigando o caso.
— Nenhuma uma coisa nem outra.
Acredito que todas as acusações e as denúncias devem ser apuradas de forma rigorosa. Na verdade, é que não se deixa nada sem apurar. Eu te asseguro que eu irei investigá-lo até o fim. Eu tenho 25 anos de vida pública.
Ao voltar a mirar em Serra, Marina citou dados do governo do estado de São Paulo, que teria cortado recursos da área Social: — Ano passado, no seu governo, foram cortados os recursos da área social. Tivemos um aumento maior para a comunicação do que nas políticas sociais. Enquanto para a comunicação foram R$ 243 milhões, na área social fomos para R$ 217 milhões, com cortes no Programas como Ação Jovem e a Renda Cidadã.
Serra disse que a área social inclui saúde e educação e que o governo de São Paulo foi o que mais fez transferência de renda. E criticou a política de gestão de pessoal da Petrobras: — Tem um fenômeno hoje no Brasil de terceirização, de precarização das relações de trabalho muito importante e significativo que é feito na Petrobras. Eu vejo reclamações de sindicalistas que mostram dados impressionantes para o número de empregos precários na Petrobras.
Marina, na réplica, acusou o governo FH de ter poucos funcionários no Ministério do Meio Ambiente: — Quando entrei no Ministério do Meio Ambiente em 2003, o setor de licenciamento do Ibama, que é um dos mais importantes porque licencia obras de bilhões de reais, contava com apenas sete servidores de carreira. Uma situação precária.

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