quinta-feira, outubro 28, 2010

Bicho-papão do mercado

Bicho-papão do mercado
ONU diz que instituições financeiras temem mais a perda de diversidade do que o terror
Para o mercado, os riscos financeiros decorrentes da perda de espécies e de ecossistemas são uma preocupação maior do que o terrorismo internacional, revelou um relatório do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (Pnuma). Ele foi apresentado ontem na 10ª Conferência das Partes da Convenção de Biodiversidade, em Nagoia, Japão. Perda de diversidade pode significar redução significativa dos estoques pesqueiros. Já a destruição de ecossistemas é traduzida, por exemplo, na degradação dos solos, desastrosa para a agricultura. Outros problemas destacados foram a escassez de água e a poluição.
O estudo é uma das derradeiras tentativas da ONU para pressionar governos a um acordo significativo. A conferência termina amanhã e corre o risco de se tornar um fracasso maior do que a última grande cúpula ambiental da ONU, a 15ª Conferência Internacional sobre Mudanças Climáticas (COP15), em dezembro passado, em Copenhague.
A próxima grande reunião ambiental, a COP-16, em Cancún, México, é vista sem esperança antes mesmo de começar, em 29 de novembro.
Dificuldade para estimar valores
O relatório estima que o declínio da biodiversidade pode ter um impacto de US$ 10 bilhões por ano para bancos, investidores e seguradoras. O diretorexecutivo do Pnuma, Achim Steiner, disse que o melhor exemplo de perdas do tipo foi o desastre ambiental no Golfo do México causado pelo vazamento de óleo de uma plataforma da British Petroleum. Não só a empresa perdeu, como também tiveram prejuízos seguradoras e outras petroleiras, afetadas pela suspensão temporária da prospecção de óleo no Golfo.
— Há uma nova percepção de risco e uma preocupação emergente em instituições financeiras. Trata-se de uma mudança na mentalidade do setor, que não diz respeito apenas às empresas diretamente dependentes de recursos naturais. O mercado começou a perceber a importância econômica da biodiversidade e dos ecossistemas para os negócios e sua credibilidade e reputação — afirmou Steiner.
O principal autor do relatório, Richard Burrett, disse que é necessário desenvolver uma nova forma de avaliação de risco, que leve o valor dos serviços ecológicos em conta.
— Florestas e água são consideradas “externalidades” que não entram nas contas. Só que agora não é mais possível desconsiderá-las, pois as perdas estão se avolumando — destacou Burrett.
Para o relatório, os especialistas a serviço da ONU analisaram dados de 3.000 das maiores corporações do mundo. Descobriram que em 2008 elas foram responsáveis por um custo ambiental de US$ 2,15 trilhões, o equivalente a 7% de seu faturamento bruto e cerca de um terço de seus lucros líquidos. O estudo destaca que a consciência do mercado sobre a importância da biodiversidade ainda está num estágio inicial, principalmente porque continua sendo muito difícil estimar valores para os serviços prestados pela natureza.

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