domingo, novembro 14, 2010

Dois cafés e a conta...com Selton Mello

Dois cafés e a conta...com Selton Mello
Mauro Ventura – O Globo - Revista
Mauro Ventura, à esquerda.
Depois do “inferno” de 2008, quando uma forte depressão o levou a pensar em abandonar a carreira, e da calmaria de 2009, quando resolveu cuidar mais de si que de seus personagens, Selton Mello faz de 2010 um ano equilibrado. Participou da série “A cura” e dirigiu seu segundo filme, “O palhaço”, a ser lançado em maio. “Ano passado, fiz coisas mais curtas e rápidas. Isso se reflete nos filmes que estão saindo agora.” Gastou só um dia para fazer a voz do objeto de “Reflexões de um liquidificador”, em cartaz desde sexta. Filmou apenas cinco dias na Espanha como um dândi português que compra poemas em “Lope” (de Andrucha Waddington, que estreia dia 26). E fez em 15 dias “Reis e ratos” (de Mauro Lima, previsto para 2011). Em fevereiro, participa de “Billi Pig”, de José Eduardo Belmonte, com Grazi Massafera.
“É uma comédia anárquica, meio na linhagem dos Irmãos Marx.” Aos 37 anos, torce por nova temporada de “A cura”, quer fazer uma peça com Mariana Lima, esboça seu terceiro filme como diretor e está em namoro com Guel Arraes para um seriado, em que talvez ajude na direção e no roteiro. Selton está de volta, mas agora se permitindo uns descansos.
REVISTA O GLOBO: Como foi esse tempo que você se deu no ano passado?
SELTON MELLO: Quis segurar mais a onda. Cumpri à risca, realmente cuidei mais de mim que de trabalho. Dei espaço para a vida entrar. Significa ficar em casa, ler, ver aquele monte de filmes atrasados, não fazer nada, se reabastecer. É muito saudável. Mas este ano já comecei a entrar no ritmo de outrora. Porque após fazer o movimento de parar você precisa fazer o de retomar, que é o que dá sentido à vida também. Só que você volta com outro olhar. Aprendi a dosar. Fui agora para um evento em Florianópolis, por causa do filme “Billi Pig”, e fiquei dez dias de férias lá. Antes não fazia isso. Voltava para já inventar outras coisas.
Acho que tem a ver com ficar mais velho. 
Você viveu uma “tempestade emocional” em 2008, por causa de uma terrível depressão... Tinha parado de tomar moderador de apetite, porque faz mal. Rodei “Jean Charles” me julgando péssimo, deslocado. Mas resultou bonito. A minha inadequação combinava com a inadequação de um brasileiro humilde em Londres. Essa crise foi a fagulha que despertou a história de “O palhaço” (sobre um artista em dúvidas com a profissão). Mas é um filme solar, cheio de esperança, que tem o desejo de se comunicar com o público. Em “O palhaço”, escrevo, dirijo e atuo, que nem Hugo Carvana e Domingos Oliveira. Paulo José diz que jogo nas 11 porque a probabilidade de ficar desempregado é menor... Faz sentido.
Muita gente acha você o ator mais importante do cinema brasileiro hoje. Você concorda? Definitivamente é o Wagner Moura. Mas nossa geração, que inclui Lázaro Ramos, Vladimir Brichta, Gustavo Falcão, João Miguel, Irandhir Santos, Matheus Nachtergaele, Caio Blat, Rodrigo Santoro, vai ser lembrada porque deu uma cara ao cinema nacional. Somos os heróis brasileiros. Não somos Johnny Depp, Brad Pitt, Tom Cruise. O público pode ir ao cinema ouvir a língua portuguesa com atores brasileiros defendendo filmes variados.
Você ia fazer “Tropa de elite 2”. Por que não fez? Vê semelhanças de “Federal” com o filme? Eu viveria o Fraga (inspirado no deputado Marcelo Freixo). Teria sido um bom encontro com o Wagner, sinto que o público tem essa curiosidade de nos ver juntos, o que nunca aconteceu. Mas ia ser filmado no mesmo período de “O palhaço”.
Teria que adiar meu filme, não seria justo com muita gente. “Federal” é de 2006, fizemos antes de “Tropa 1”, mas demorou até ter dinheiro para finalizar. Perdeu o timing e foi lançado após “Tropa 2”, com todas as comparações que vêm.
Você faz muitos filmes autorais, de baixo orçamento, recebendo cachês simbólicos... Se pautasse minha história só pelo dinheiro, teria deixado de fazer coisas lindas. O Lourenço é o grande personagem da minha carreira (chegou a gastar R$ 5 mil em hospedagem ao fazer o protagonista de “O cheiro do ralo”, de Heitor Dhalia).
Procuro ganhar grana em publicidade e filmes de maior orçamento e poder fazer projetos estimulantes, como “Reflexões de um liquidificador”.
É um filme guerreiro. E é do André Klotzel. O cara que fez “Marvada carne” me convidou!

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