domingo, novembro 14, 2010

Lobby dos remédios

Lobby dos remédios
EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO - editoriais@uol.com.br
Uma pesquisa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, divulgada na sexta pela Folha, revela a abrangência do lobby da indústria farmacêutica sobre médicos e demais profissionais da saúde. Surpreende no levantamento sobretudo o grau de assédio dos fabricantes de remédio sobre os administradores da rede pública.
Entre os gestores do Sistema Único de Saúde, 75% disseram receber visitas mensais de representantes de fármacos. A estratégia de promoção de produtos mais utilizada é a distribuição de brindes com o nome dos remédios.
Cerca de 40% dos 700 médicos ouvidos admitem que podem ser influenciados por esse tipo de abordagem na hora de receitar.
Tendo em vista tal poder de sugestão, o Código de Ética Médica e o Conselho Federal de Medicina proíbem a seus profissionais o recebimento de benefícios -dinheiro, brindes, viagens- em troca da prescrição de remédios.
Raramente, porém, ocorre permuta tão explícita. Médicos não receitarão fármacos de menor qualidade em troca de chaveiros ou um par de dias em hotéis de luxo. O efeito de brindes, custeio de congressos e propagandas sobre a atividade clínica -constatado em estudos- se dá de forma indireta e pouco consciente. Mas não resta dúvida de que, quanto mais estreito o vínculo entre a indústria e os profissionais da saúde, menor a confiança que um paciente pode depositar na escolha do médico ao receitar um medicamento.
Atento ao conflito de interesses, o Ministério da Saúde acena com novas restrições à atividade dos representantes de medicamentos, sem ainda ter definido quais medidas poderão ser aplicadas.
O caso exige firmeza, mas também moderação - pois é um direito da indústria farmacêutica, observando parâmetros éticos, promover seus produtos. Melhor é que os próprios médicos, por meio de normas profissionais, contenham os riscos dessa relação.

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