quinta-feira, maio 13, 2010

CORREIOS EM CRISE

CORREIOS EM CRISE
EDITORIAL - JORNAL DO COMMERCIO (PE) - 13/5/2010
Serviço digno do respeito de gerações de brasileiros, os Correios têm experimentado seguidos golpes na credibilidade junto à população. O processo de deterioração da imagem da instituição teve um de seus marcos no escândalo de distribuição de propina que culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), no Congresso. O desdobramento da CPI revelou o esquema do mensalão do PT, denunciado pelo ex-deputado Roberto Jefferson em maio de 2005. De lá para cá, outras suspeitas de corrupção e seguidas paralisações, devido a movimentos grevistas, contribuíram para solapar o patrimônio de confiança acumulado pelos Correios desde a sua fundação, em 1852.
O atraso de documentos e boletos de pagamento é o principal alvo das reclamações. O reflexo da crise prolongada nos Correios pode ser visto com clareza em municípios como Caruaru, onde 35 carteiros realizam a entrega da correspondência para um contingente de 300 mil habitantes. O resultado é que há um atraso de até dez dias para que as pessoas recebam suas cartas, provocando revolta nos caruaruenses, pelo pagamento de juros e multas devido ao não pagamento de contas que chegam fora do prazo. Não por acaso, entre 2008 e 2009, as indenizações por extravios de documentos e encomendas cresceram 21% no País. Na entrega diferenciada - e mais cara - do Sedex, o prazo prometido de 24 horas entre capitais, não raro, tem se estendido por quase duas semanas.
Confirmando o alcance nacional da situação, a direção regional da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) reconhece as dificuldades, não somente em Pernambuco, mas em todo o Brasil. Os problemas seriam decorrência da indisponibilidade de aviões para o transporte aéreo noturno, que estaria ocasionando uma situação extraordinária responsável por casos como o de Caruaru. O presidente da ECT, Carlos Henrique Custódio, já revelou a intenção de montar uma empresa aérea, em parceria com agentes privados. No entanto, como explicar a insuficiência de mão de obra? A categoria dos carteiros, que muitas vezes sofre na pele o transtorno de ser apontada como vilã, diz que são necessários pelo menos 60 profissionais para dar conta do trabalho em uma cidade do porte de Caruaru. 
A crise de imagem parece ser apenas a ponta do iceberg de um problema de maior amplitude, que afeta a qualidade dos serviços prestados por uma instituição que responde por uma atividade essencial para qualquer nação. Em documento de circulação interna com trechos divulgados pela imprensa, em abril, o diretor de Operações dos Correios, Marco Antonio de Oliveira, escreveu que se atravessa um período de mal generalizado, com a frota sucateada, sistemas de processamento desatualizados e problemas de indisciplina. Em sintonia com esse dado, a quantidade de correspondências sofreu uma queda de 1 bilhão nos últimos cinco anos, o que equivale a R$ 700 milhões anuais a menos na receita.
A pontualidade, a responsabilidade e o zelo pelas correspondências podem ter sido vítimas do aparelhamento da máquina pública, fenômeno já tratado neste espaço e pela maioria dos órgãos de comunicação. O loteamento de cargos que valeu denúncias de corrupção, configura nos Correios exemplar indício contra a prática do aparelhamento. A questão agora é saber até quando a falta de profissionalismo vai imperar na instituição, em nome de acomodações partidárias, afundando ainda mais a estatal.
O monopólio da movimentação postal para cartas e boletos bancários, garantido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no ano passado, não dá aos Correios o direito de manter um serviço de má qualidade, que continua melancolicamente em declínio. Pelo contrário, é dever da instituição, como empresa pública, investir na constante melhoria dos serviços prestados ao cidadão. O preço pago pela sociedade é duplamente alto, desta forma, em virtude de entregas que não disponham de alternativas para distribuição. Ficamos reféns da ingerência política e administrativa que penaliza uma das organizações mais tradicionais do serviço público brasileiro. 

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