quinta-feira, junho 17, 2010

A dor silenciosa dos idosos

A dor silenciosa dos idosos

Andrielle Mendes // andriellemendes.rn@dabr.com.br - Diário de Natal - 16/06/2010
Número de denúncias é bem menor que volume real de violência e abusos contra a terceira idade. Vergonha inibe queixas
No Dia Mundial de Combate a Violência contra o Idoso, um alerta: a subnotificação de casos impede que um retrato da violência praticada contra idosos seja traçado no Rio Grande do Norte. Embora a delegacia Especializada de Proteção do Idoso (Depi) e a Promotoria do Idoso em Natal não tenham o número exato de denúncias registradas em 2010, o delegado Marcus Venícius e a promotora do idoso Iadya Gama afirmam que o número de registros não representa a realidade. De janeiro a abril de 2010, a Depi registrou 42 queixas de violência contra idosos. Por mês, a Promotoria chega a registrar até 20 queixas, o que dá 240 queixas por ano. 
Há dificuldade para pegar ônibus, porque motoristas "queimam" paradas. Onde deveria existir um grito de basta, há silêncio. O idoso sente vergonha, receio. Tem medo de denunciar e sofrer mais agressão; de reclamar e prejudicar um filho, um neto. Com receio de sofrer mais violência, alguns chegam a retirar a queixa antes da polícia instaurar o inquérito ou logo após os agressores serem notificados. "Eles fazem um pacto de silêncio. O idoso consciente só vai denunciar depois de ter sofrido muito. Eles não querem penalizar quem amam. Há uma subnotificação, sim. Uma violência que não está registrada", afirma Iadya. 
O perfil dos agressores é uma das causas da subnotificação. Segundo levantamento da Promotoria do Idoso, os principais agressores são filhos e netos - 47%. Isso mostra que quem deveria proteger agride, na avaliação de Iadya Gama. Em seguida, vem a violência praticada nos hospitais, abrigos e transporte - 36% do total. Além da violência doméstica e no transporte, os idosos também sofrem com retenção de cartões magnéticos e desvio da aposentaria por familiares. Quando a polícia recebe a denúncia e tenta intervir, muitos se negam a receber ajuda. Preferem ficar calados. 
Para a promotora, a violência psicológica, em alguns casos, é mais nociva que a física. E não são só os xingamentos que produzem danos, mas também a privação de direitos - desde o direito de gastar a aposentadoria ao de escolher o que vestir. "A pior coisa que tem é ser invisível dentro de casa. Não é o filho ou o neto bater, dar uma tapa. É a tapa moral, psicológica que se transforma numa ferida difícil de cicatrizar e que também leva a morte", relata a promotora. 
Quadro dramático
De acordo com pesquisa do Ministério da Saúde em 2008, cerca de dois milhões de idosos são vítimas de agressão todo ano no Brasil. O estudo mostrou que agressões eram a segunda causa de internação no SUS.

NÚMEROS

Queixas

l delegacia Especializada de Proteção do Idoso (Depi)

42 (Janeiro - abril/2010)

l Promotoria do Idoso (média)

20 por mês

240 por ano

Serviço

delegacia Especializada de Proteção do

Idoso (Depi)

Avenida Rio Branco, Centro (Central do Cidadão)

Horário - 8h às 18h de segunda-feira à sexta-feira

Telefones: 3232-0521

Disque-denúncia: 0800-084-1021 + Mais Transporte é fonte de reclamações

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