sábado, julho 17, 2010

Bem longe da classe C

Bem longe da classe C
Mercado de itens exclusivos vai bater recorde este ano no Brasil. Previsão é crescer entre 18% e 20%
Aguinaldo Novo e Fabiana Ribeiro
SÃO PAULO e RIO

Passado o susto com a crise financeira no ano passado, o mercado de luxo se prepara para bater recorde de crescimento este ano no Brasil. A previsão de especialistas é de um aumento entre 18% e 20% do faturamento, acima da média histórica de 14% registrada nos anos anteriores.
Atraídos por esse mercado promissor, os grupos estrangeiros não param de se mexer. Só em 2009, desembarcaram no país marcas como a italiana Missoni e a francesa Hermès.
Em março passado, a inglesa Bentley abriu as portas de sua loja em São Paulo, com carros custando até R$ 1,3 milhão.
Na mesma rua, é esperada para o próximo mês o início das vendas no país de outra tradicional montadora inglesa, a Aston Martin.
No Rio, a francesa Chanel abriu sua primeira loja no país, no Shopping Leblon, apenas de perfumes, cremes e maquiagem. Já há planos para uma nova loja em São Paulo, no Iguatemi, em outubro. Uma aposta após a empresa constatar que o brasileiro é o sétimo maior consumidor de seus produtos no exterior. Para se ter ideia desse potencial, a loja do Rio já tem mil mulheres à espera do esmalte Particulière (R$ 92).
A Louis Vuitton, por sua vez, reforçou suas apostas no Brasil ao adquirir 70% da Sack’s Perfumaria, portal de vendas on-line de cosméticos.
— Somos um exemplo de que o mercado de luxo no Brasil dá certo. Éramos uma empresa de garagem que cresceu tanto que já fatura R$ 100 milhões.
Um dos maiores entraves do crescimento do setor é a forte tributação.
Se não fosse por isso, o acesso ao luxo seria ainda muito maior — analisa Carlos André Montenegro, que passou de dono para diretor-executivo do portal.
Pesquisa que será divulgada na próxima semana pelas consultorias MCF e GFK Brasil mostra que o mercado de luxo no Brasil somou cerca de US$ 6,2 bilhões em 2009, 5% a mais do que em 2008, e o equivalente a 1% do faturamento mundial desse segmento. Carlos Ferreirinha, presidente da MCF, afirma que o país tem potencial para dobrar essa cifra nos próximos dez anos.
— A fotografia atual ainda é de um mercado muito complexo, oneroso e tributado. Mas a médio e longo prazos, o Brasil aparece como um dos mais promissores do mundo. É nisso que as grandes marcas estão apostando — diz ele.
Ferreirinha foi um dos empresários que entrou na agenda da visita do bilionário francês Henri-François Pinault, na semana passada, ao Brasil.
Pinault, que esteve no Rio e em São Paulo, é dono do grupo que controla grifes como Gucci, Yves Saint Laurent, Balenciaga e Puma, além da rede Fnac. Rumores do mercado indicam que o francês estuda fechar uma parceria com a Osklen, do empresário Oskar Metsavaht.
— A maior preocupação deles (os empresários estrangeiros) ainda é com a garantia de um crescimento forte no futuro. E isso vai depender de pontos como uma reforma tributária e maior desenvolvimento econômico fora do eixo Rio-São Paulo.
Rio é alvo do mercado de grifes internacionais O consultor Marcos Gouvêa, diretor geral da GS&MD — Gouvêa de Souza, aponta duas razões para explicar a corrida pelo mercado brasileiro.
A primeira é a perspectiva de crescimento econômico nos próximos anos, em contraste com a quase estagnação de vendas em países da Europa. Além disso, o mercado nacional ainda é pouco concentrado, o que garante menor concorrência e margens de lucro maior: — No segmento de alto luxo, a oferta já é grande, mas ainda existe espaço para novos.
Depois de dois anos de negociação, quatro sócios brasileiros ganharam o direito de representar a montadora inglesa Bentley no Brasil.
Em apenas três meses de funcionamento, a loja de São Paulo já vendeu sete veículos, com preços que começam em R$ 860 mil e chegam a R$ 1,310 milhão.
— Mantido esse ritmo, deveremos bater a meta estabelecida para este primeiro ano — comemora Joseph Tutundjian, um dos diretores da marca no país.
No plano de negócios aprovado pelos ingleses, a meta é vender 20 carros este ano, volume que pularia para 24 em 2011, até 28 em 2012 e 32 em 2013. Na montagem da loja e treinamento de funcionários, os sócios brasileiros investiram R$ 4,5 milhões.
A Bentley é uma das mais exclusivas fabricantes de veículos do mundo, tendo a realeza inglesa entre seus clientes.
São fabricadas apenas seis mil unidades por ano. Animados com os resultados, os sócios já estudam a abertura de uma segunda loja em 2011, provavelmente em algum estado do Sul, e também em marcar presença na Argentina, a partir de 2012.
— Eles (a Bentley) colocam muita fé no mercado da América do Sul — completou Tutundjian.
Resultados acima da meta também levaram a Missoni a antecipar seus planos de expansão no Brasil. A primeira loja da marca italiana de roupas e acessórios na América Latina abriu em dezembro, em São Paulo, com produtos valendo de R$ 350 (como uma tiara) a R$ 14 mil (vestidos de festa).
Quatro meses depois, um segundo ponto de venda foi aberto no país, desta vez em Brasília.
— A previsão para esta segunda loja era apenas para dezembro. Antecipamos em oito meses nossos planos — afirmou Vicente Mello, diretorexecutivo da MMR Labels, que trouxe a Missoni para o Brasil.
Ele não divulga números, mas confirma que “todas as metas de venda foram batidas”. Mello — que, em vez de mercado de luxo, prefere usar o termo “produtos diferenciados” — afirma ainda que o interesse do grupo italiano não para por aí.
Está prevista para 2012 a inauguração de um hotel (o Missoni) na Ilha de Cajaíba, na Bahia. O primeiro da rede foi aberto em Edimburgo, em meados de 2009.
E novas marcas devem entrar no país. Segundo Sergio Pessoa, diretor da Alliansce, de três a cinco novas grifes de luxo devem abrir lojas, até o fim do ano no Shopping Leblon. Hoje, ele conta que esse segmento já responde por 16% das vendas do empreendimento — no ano passado, essa fatia era de 12%. E, no primeiro semestre, as vendas dessas marcas, sem contar com Chanel, subiram 22% na comparação com os primeiros seis meses do ano passado: — O mercado do Rio virou um forte candidato para as grifes internacionais.
Isso também é resultado da maior exposição da cidade por causa de Copa e Olimpíadas.

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