sábado, agosto 21, 2010

Ciganos expulsos prometem retornar à França

Peggy Hollinger e Chris Bryant
O avião mal tocou a pista do aeroporto de Bucareste, na quinta-feira, e muitas das famílias ciganas, deportadas da França por permanecerem além do prazo de seu visto, já planejavam voltar.
“É claro que estamos pensando em voltar”, disse Ionut Balasz, 26 anos, aos jornalistas ao chegar ao aeroporto. “A vida é melhor do que na Romênia, mesmo quando você é ilegal.”
A vida melhor de Balasz era em um acampamento improvisado nos limites de Grenoble, uma das cerca de 300 favelas ilegais que Nicolas Sarkozy, o presidente da França, prometeu remover.
A política provocou protestos internacionais, com organizações de direitos humanos acusando a França de expulsar um único grupo étnico, um ato ilegal segundo a lei da União Europeia, mas fortemente negado pelas autoridades.
A decisão também colocou em dúvida o compromisso da Europa com milhões de seus cidadãos e sua promessa de permitir a livre circulação por suas fronteiras.
A maioria dos ciganos visada pela França vem da Romênia e da Bulgária, alguns dos mais novos países membros da UE. E eles estão entre os cidadãos mais vulneráveis da Europa, com uma expectativa de vida média que equivale à metade da média da UE, e taxas de mortalidade infantil e analfabetismo muito maiores.
Mas nenhum desses novos cidadãos europeus tem o direito automático de trabalhar na França e, sem meios de se sustentarem, não podem permanecer mais do que três meses. O mesmo vale para 10 outros países europeus, que, apesar dos pedidos da Comissão Europeia, continuam restringindo o acesso ao seu mercado de trabalho para cidadãos da Romênia e da Bulgária.
“É permitido à França restringir o acesso ao seu mercado de trabalho segundo a lei da UE (...) mas é um tanto hipócrita a queixa sobre as pessoas não terem dinheiro para subsistência na França, quando ela não oferece acesso ao mercado de trabalho”, disse Rob Kushen, diretor administrativo do Centro para os Direitos dos Ciganos Europeus, em Budapeste.
Todavia, os países ocidentais da Europa como França, Alemanha, Espanha, Itália e Grécia ainda assim prometem uma vida melhor para muitos que enfrentam exclusão, discriminação e às vezes até pior em casa.
Na Romênia, lar da maior população de ciganos da Europa, com algumas estimativas colocando o número em até 2,5 milhões dentre uma população de 22 milhões, os ciganos há muito são marginalizados. Com acesso limitado à educação, aos serviços públicos e à Justiça, os ciganos permanecem estigmatizados, um padrão que se repete por toda a Europa.
A discriminação em casa forçou muitos a caírem na estrada à procura de trabalho, e a queda do comunismo há 20 anos e o ingresso na UE abriram as portas para uma onda de emigração, que especialistas dizem que provavelmente aumentará.
Mas as restrições ao trabalho na maioria dos países –com exceções notáveis como Espanha e Finlândia– fazem com que muitos sejam forçados a recorrer ao mercado negro, e alguns à criminalidade, assim que chegam. Isso transforma os ciganos em alvo fácil para os políticos que buscam distrair a atenção dos problemas domésticos, ao explorarem os temores em relação à segurança.
Na Itália, que conta com cerca de 60 mil ciganos não-italianos entre sua população, o governo até mesmo declarou uma “emergência nacional de ciganos” em 2008, levando a expulsões em massa como parte de um pacote de segurança, elementos considerados incompatíveis com a lei da UE.
Mas, segundo Olivier Legros, do grupo de pesquisa de ciganos europeus, UrbaRom, há evidências de alguns países do Leste Europeu que sugerem que as taxas de criminalidade não são maiores do que entre a população em geral.
A Comissão Europeia, por sua vez, parece ter reconhecido que suas tentativas para resolver a situação difícil dos ciganos fracassaram e que suas políticas necessitam de reforma. Todavia, as autoridades apontam que cerca de 17,5 bilhões de euros foram disponibilizados para projetos para ajudar os “ciganos e outros grupos vulneráveis” desde 2003. Como eles sugerem, o problema é simplesmente que os países membros não estão usando o dinheiro para essa população vulnerável.
“Nós achamos que mais pode ser feito nos países membros para ajudar os ciganos”, disse uma autoridade para o “Financial Times”.
Mas há pouca evidência de que exista vontade política. Nesta semana, os países membros devolveram a bola para a quadra da Europa, com tanto a França quanto a Romênia pedindo para uma solução para toda a UE.
Enquanto isso, outros 136 ciganos ilegais estavam voltando da França para casa na sexta-feira e, provavelmente, planejando retornar antes mesmo do avião pousar.
Guilia Segreti, em Roma (Itália), e Stanley Pignal, em Bruxelas (Bélgica), contribuíram com reportagem adicional.
Tradução: George El Khouri Andolfato

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