sábado, agosto 21, 2010

Construam a mesquita do Marco Zero

Construam a mesquita do Marco Zero
Fareed Zakaria - colunista e editor-chefe da edição internacional da revista Newsweek e escreve quinzenalmente em ÉPOCA
Desde os atentados do 11 de setembro, a esquerda e os conservadores concordam que a solução duradoura para o problema do terrorismo islâmico é prevalecer na batalha de ideias para desacreditar o islã radical, a ideologia que motiva homens jovens a matar e ser mortos. A vitória na guerra ao terror vai ser conseguida quando uma versão dominante moderada do islã – que seja compatível com a modernidade – triunfar totalmente sobre a visão de mundo de Osama Bin Laden.
Como diz Daniel Pipes, especialista em Oriente Médio e conservador, “o papel dos Estados Unidos é menos oferecer suas próprias visões que ajudar os muçulmanos com visões compatíveis, especialmente em questões como relações com não muçulmanos, modernização e os direitos das mulheres e das minorias”. Com essa finalidade, logo no começo de seu mandato, George W. Bush deu início a um esforço para se aproximar do islã moderado. De lá para cá, Washington financiou mesquitas, institutos e centros comunitários que tentam modernizar o islã em todo o mundo. Exceto, pelo visto, na cidade de Nova York.
A cidade está debatendo se um centro islâmico deveria ser construído a duas quadras do local onde ficavam as torres gêmeas do World Trade Center antes do 11 de setembro, mesmo depois de a prefeitura ter dado aval. Se vai haver um movimento reformista no islã, ele vai emergir de entidades como o instituto proposto. Grupos como o que está por trás desse projeto deveriam ser incentivados, não demonizados.
Os islâmicos que querem erguer a mesquita perto do local do 11 de setembro têm de ser incentivados
O homem que vai construir a mesquita, o imã Feisal Abdul Rauf, é um clérigo muçulmano moderado. Ele disse uma ou outra coisa bem crítica sobre a política externa americana – mas é coisa que é possível ler a qualquer hora no blog conservador Huffington Post. Sobre o islã, as visões de Rauf são claras: ele condena regularmente todo tipo de terrorismo. Fala sobre a necessidade de os muçulmanos viverem pacificamente com todas as outras religiões. Defende direitos iguais para as mulheres, critica leis que de alguma forma punam não muçulmanos. Seu último livro, O que está certo com o islã é o que está certo com a América, afirma que os EUA são, na verdade, a sociedade islâmica ideal, pois promovem a liberdade para indivíduos de todas as religiões. A sua visão sobre o islã é o pesadelo de Bin Laden.
A questão muito maior que a mesquita do Marco Zero de Nova York levanta é, claro, a da liberdade de religião nos EUA. Muito foi escrito sobre isso. Apenas recomendaria o discurso do prefeito nova-iorquino, Michael Bloomberg, sobre o assunto. Eloquente e corajoso, deveria tornar-se leitura obrigatória em toda sala de educação cívica.
O discurso de Bloomberg contrasta com a bizarra decisão da Liga Antidifamação (ADL) de se alinhar publicamente aos que preferiam ver a mesquita longe do Marco Zero. O estatuto da LAD, uma ONG inicialmente destinada a combater o antissemitismo, busca “pôr fim para sempre à discriminação ou ao escárnio injusto e ilegítimo contra qualquer seita ou grupo de cidadãos”. Mas Abraham Foxman, diretor da LAD, disse que todos precisamos respeitar os sentimentos das famílias do 11 de setembro, mesmo se forem sentimentos preconceituosos. “A angústia delas permite que tenham posições que outros classificariam como irracional ou intolerante”, afirmou Foxman.
Primeiro, as famílias têm opiniões diversas sobre essa mesquita. Afinal, dezenas de muçulmanos foram mortos no World Trade Center. Foxman acredita que não haja problema ser intolerante se as pessoas acham que sejam vítimas? A angústia dos palestinos, então, permite que eles sejam antissemitas? Há cinco anos a LAD me honrou com o prêmio Hubert H. Humphrey de Liberdades da Primeira Emenda (à Constituição americana, que garante as liberdades individuais). Fiquei emocionado por receber um prêmio de uma organização que eu admirava. Mas não posso mais ficar com ele. Devolvi a bela plaqueta e o valor de US$ 10 mil que veio com ela. Peço que a LAD reveja a sua decisão. Admitir um erro é um preço pequeno a pagar para recuperar uma reputação.

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