segunda-feira, setembro 20, 2010

Marina Silva é entrevistada pelo Bom Dia Brasil

Marina Silva é entrevistada pelo Bom Dia Brasil
A candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva, foi entrevistada na manhã desta segunda-feira (20) pelo Bom Dia Brasil. Os candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) também serão entrevistados nesta semana. A ordem das entrevistas foi definida em sorteio. Marina respondeu a perguntas dos entrevistadores durante 20 minutos.  Veja abaixo os vídeos com as duas partes da entrevista e a transcrição dos dez primeiros minutos. Logo mais, leia a transcrição completa.
Renato Machado – Candidata, a senhora promete criar educação em tempo integral, escolas com laboratórios, computadores, bibliotecas, alimentação e os economistas dizem que seria preciso gastar 10% do PIB durante 10 anos para conseguir tudo isso. Hoje esse investimento está em 5%. Não é prometer o que vai ser impossível de se cumprir em 4 anos?
Marina Silva – Não, Renato. É uma questão de prioridade. Até porque quando eu falo educação em tempo integral, é diferente de escola em tempo integral. Educação em tempo integral é você, mesmo na escola normal, de um período, você combinar com outras atividades pedagógicas em que a criança pode ir a museus, bibliotecas, visitar parques, comunidades e assim ela está sendo educada por outras práticas, que não necessariamente na sala de aula. Talvez seja esse o equívoco que as pessoas estão identificando... que na verdade não é, não é escola de tempo integral, é educação integral. O processo de ensino e aprendizagem pode se dar de uma forma mais abrangente que o tradicional cuspe e giz dentro de sala de aula. É isso que eu estou inovando. E o que eu estou dizendo é que é perfeitamente possível sair dos atuais 5% do PIB investidos em educação para 7% até o final de 2014, começando já em 2011. Para isso, a gente tem que melhorar a qualidade do gasto público e evitar desvios de verba pública como aconteceu no caso do Amapá, que estão roubando o futuro do Brasil duas vezes: nos recursos públicos e no futuro das crianças.
Renata Vasconcelos - Pois é, candidata, a senhora mesmo acabou de dizer, ou seja, promete gastar mais, aumentar de 5 para 7% os investimentos em educação e ao mesmo tempo a senhora defende austeridade nos gastos. Para a conta poder fechar, exatamente de onde a senhora vai tirar dinheiro para isso, para educação?
Marina – Evitar o desvio dos recursos públicos, Renata. O que acontece no Brasil...
Renata – São 18 bilhões de reais a mais, candidata.
Marina – Mas, preste atenção, Renata. É uma questão de prioridade. A gente conseguiu capitalizar R$ 180 bilhões no BNDES para investir em algumas empresas e sem critérios transparentes. Estão dizendo que vão fazer o trem-bala, que daria para dobrar durante um ano os recursos para educação. É uma questão de prioridade. Nós vamos priorizar a educação. Nós estamos vivendo um apagão de recursos humanos. Um país não vai a lugar nenhum se não investir em conhecimento, tecnologia e inovação. Ainda temos 15 milhões de jovens analfabetos. Cerca de 40% das nossas crianças entram no ensino fundamental mas não chegam sequer à oitava série. Isso não é aumentar gasto. É aumentar o investimento naquilo que de fato faz a diferença: gerar igualdade de oportunidade para que esse país possa fazer jus às imensas oportunidades que ele tem. Sem investimento em educação a gente não chega a lugar nenhum. Nós já estamos importando a mão de obra qualificada para os melhores postos de trabalho.
Miriam Leitão - Candidata, está acontecendo agora a capitalização da Petrobrás. Isso interessa a milhares de pessoas, acionistas da empresa. A senhora sempre teve uma posição contra a economia de alto carbono, como a senhora diz, e teve esse acidente horroroso no Golfo do México. O que a gente pode esperar se a senhora for eleita, uma mudança, um adiamento na exploração do pré-sal, para mais seguranças? O que a senhora diz sobre o pré-sal?
Marina – Em relação ao pré-sal, Míriam, eu sempre digo que o uso do petróleo ainda é um mal necessário, no mundo inteiro e no Brasil também. Agora, o Brasil é o país que reúne as melhores condições para dar esse salto de mudança de energia fóssil para renovável. Então, a capitalização é importante e nós devemos fazer os investimentos para que a exploração tenha as melhores tecnologias para evitar acidente como no Golfo do México, evitar emissões já na exploração e uma parte dos recursos...
Miriam – Mas mantém a exploração do pré-sal?
Marina – Mantém a exploração com segurança. Isso é fundamental. Ter inclusive uma atitude transparente em relação aos procedimentos, às tecnologias que serão usadas. E eu proponho que se estabeleça um comitê cientifico de acompanhamento independente, da sociedade civil. Que as instituições de pesquisa, de forma independente possam acompanhar e auditar, sempre que acharem necessário, o que está sendo feito, exatamente para evitar acidentes como o do Golfo do México. E uma boa parte dos recursos seria e investido em tecnologia, inovação, para que a gente substituía no mais rápido curto tempo a questão do uso dos combustíveis fósseis. Não é? Eu sempre repito uma frase inteligente de um diretor do Banco Mundial que disse: 'Nós saímos da idade da pedra não foi por falta de pedra. Foi porque encontramos outras práticas'. É preciso sair da idade do petróleo antes que o petróleo acabe com a idade do planeta.
Renata – Candidata, eu vou insistir nas promessas. A senhora propõe investir em saneamento básico R$ 20 bilhões por ano durante dez anos, mas o mandato é de quatro anos. O que é possível fazer em quatro anos?
Marina – Em quatro anos, é manter essa preocupação, Renata. Se nós quisermos resolver o problema de 80% da população que não tem esgoto tratado. É um absurdo uma coisa dessa. Só 13% dos municípios têm aterro sanitário. A maior parte, a outra parte, são lixões. Se nós não fizermos esses investimentos estratégicos, nós não vamos melhorar a qualidade de vida da população.
Renata – De que forma a senhora vai fazer esses investimentos, objetivamente?
Marina – De que forma? Nós vamos evitar o desperdício do gasto público. Existe muito desperdício. Eu vou criar um sistema transparente de acompanhamento da gestão pública. São cerca de quase 5% do PIB que é drenado em corrupção. Se nós criarmos um sistema de acompanhamento transparente, um estado profissionalizado, nós vamos evitar o dreno da corrupção. Quero também que a gente possa imaginar que é possível uma gestão que não se orienta pelo fisiologismo, do aumento de cargos, um estado profissionalizado, mobilizador. Durante quatro anos eu quero priorizar os investimentos estratégicos para que o Brasil possa viver com dignidade. Agora, isso não é promessa, Renata. Isso está no programa de governo, numa plataforma, que diferentemente dos outros candidatos, que não fizeram isso... O governador Serra apresentou um discurso. A ministra Dilma, várias versões. Sabe por quê? Porque eles não se prepararam para debater o Brasil. Se prepararam para o embate. E tem mais. Na minha plataforma de governo, o que eu estou dizendo, é que nós vamos trabalhar esses recursos priorizando as áreas estratégicas. Por quê? Hoje as pessoas acham perfeitamente normal os investimentos que já estão no PAC, agora é bom, pensar que durante dez anos, oito anos do governo Fernando Henrique foram investidos apenas R$ 10 bilhões em saneamento, o que era para ser feito em um ano foi investido em oito anos.
Renata – Pois é, candidata, então falando em dinheiro, em impostos. A senhora pretende aumentar a arrecadação criando as chamadas taxas verdes. A senhora vai aumentar os impostos, a carga tributária já está tão alta.
Marina - Não tem como você dizer que será aumentar os impostos.
Renata – O que seriam essas taxas verdes?
Marina – As taxas verdes é você imaginar que existem determinadas atividades que são altamente danosas ao meio ambiente. Se você quer fazer uma termoelétrica, você vai ter que pagar o preço das emissões de CO2. É para que a gente possa educar e incentivar que os investimentos possam ir para as práticas renováveis.
Miriam – Então o petróleo tem então taxa verde?
Marina – No caso das termoelétricas, sim e, por exemplo, se você vai fazer uma eólica, você pode ter inclusive incentivo. E hoje o custo da eólica já é mais barato do que uma termoelétrica. É uma questão de pensamento estratégico.
Renato – Candidata, são várias propostas que custam muito e o seu partido, por exemplo, não fez alianças nacionais. Como é que a senhora espera conseguir apoio para fazer todas essas mudanças que a senhora, apoio no Congresso, apoio político para fazer todas essas mudanças que a senhora está enumerando?
Marina - Olhe, Renato. Eu talvez seja a única candidata que pode fazer essas mudanças. Porque eu não estou presa às velhas alianças, aos atravessadores da política. E eu estou dizendo claramente, que se ganhar eu vou governar com os melhores do PT, do PMDB, do PSDB, do PDT, e vou conversar diretamente com aqueles parlamentares que se mobilizam por programas. Vou me compor a minha base de governança e os cargos do governo que precisam ser preenchidos com os melhores porque o que nós temos aí são as velhas alianças, que já estão amarrando nos compromissos fisiológicos a mesma repetição dos erros. O PSDB tentou governar sozinho, ficou refém do fisiologismo do PMDB e do Democrata. O PT tentou governar sozinho, ficou refém do fisiologismo do PMDB. No meu governo, eu vou compor com aqueles que se mobilizam programaticamente e não pragmaticamente. Eu sou a única que talvez possa fazer essa transição, mudando a lógica dos governos que são feitos a partir do interesse fisiológico. E eu quero mobilizar a sociedade brasileira por programa, por projeto. É por isso que eu tenho debatido educação, saúde, segurança pública, infra estrutura, tenho debatido como cuidar do meio ambiente sem que isso signifique perder as oportunidades de investimento econômico e social.

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