segunda-feira, setembro 20, 2010

União quer fazer a força contra Hugo Chávez

União quer fazer a força contra Hugo Chávez
Oposição tenta recuperar espaço no Parlamento, que ao ser abandonado por ela há 5 anos fortaleceu o presidente
Mariana Timóteo da Costa – O Globo
 Ismael García, do partido de centro-esquerda venezuelano Podemos, ainda era aliado do presidente Hugo Chávez quando se elegeu deputado para a Assembleia Nacional (AN) nas últimas eleições legislativas realizadas no país, há cinco anos. O Podemos rompeu com o chavismo em 2007, segundo conta García, “por discordar do caminho pelo qual o presidente levava a Venezuela rumo à ditadura”. Daqui a uma semana, García tentará a reeleição, depois de três anos “de uma luta difícil”. Ele e outros sete deputados do Podemos continuaram no Parlamento praticamente como as únicas vozes dissonantes a Chávez, que passou a dominar a Casa depois que a oposição resolveu não apresentar candidatos a deputado em 2005.
— Quando rompemos com Chávez e seu PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), perdemos nossas salas na Assembleia, assim como o direito de participar de qualquer comissão.
Nos limitávamos a falar para um plenário vazio, e para a escassa mídia crítica ao governo, sobre as barbaridades que os deputados chavistas fizeram nos últimos cinco anos — afirma García, que agora concorre à reeleição num cenário político um pouco distinto.
Lista única de olho nas presidenciais de 2012 Frente a um Chávez cada vez mais radical em seu projeto socialista, numa Venezuela em crise, a oposição se uniu — “como nunca havia conseguido antes”, relata Delsa Solórzano. Ela é uma das idealizadoras da Mesa de Unidade Democrática (MUD), que engloba o Podemos e outros 21 partidos ou movimentos com o objetivo de fazer frente ao todo-poderoso PSUV de Chávez nas eleições legislativas do próximo domingo. A MUD conseguiu apresentar uma lista única de postulantes às 165 vagas da AN, e também às 12 do Parlamento Latino-Americano (Parlatino), com sede no Panamá.
— Nossa meta, na pior das hipóteses, é obter ao menos 1/3 das cadeiras, necessárias para bloquear a votação de qualquer lei estapafúrdia como as que Chávez vem aprovando desde que erroneamente desistimos da AN em 2005. Ainda acho que conseguiremos mais cadeiras do que isso. E certamente o número absoluto de votos nos candidatos da oposição será maior do que nos da situação — acredita Delsa, ressaltando que a MUD é inspirada na Concertação, que governou o Chile por mais de 20 anos.
E por que não se tornar a principal força da Assembleia? Alex Capriles, cientista político da Universidade Católica Andrés Bellos, diz que dificilmente isso ocorrerá. Primeiro por causa da lei eleitoral, que prevê voto distrital nos 23 estados. Além disso, explica Capriles, Chávez fez uma série de manobras políticas para que “o voto valesse mais onde o PSUV é forte”.
— Não contamos com obter o controle da AN, mas esperamos ter, pela primeira vez em cinco anos, voz dentro dela. O objetivo é conseguir conquistar o maior número possível dos mais de 17 milhões eleitores venezuelanos para nos fortalecer nas eleições presidenciais de 2012, em que a MUD certamente apresentará um único e forte candidato, capaz de derrotar Chávez democraticamente, nas urnas — afirma Julio César Pineda, um conhecido ambientalista e comentarista político da rede Globovisión, candidato a uma vaga no Parlatino, de importância, segundo ele, fundamental, para denunciar os “ abusos chavistas dos direitos humanos no cenário internacional”.
Dificuldade de convergência de interesses tão díspares Os institutos de pesquisa não se arriscam a cravar um resultado.
Em boa parte das zonas eleitorais, os candidatos da máquina de Chávez aparecem praticamente empatados com os da MUD e do PPT — outra dissidência chavista, mas que resolveu não se aliar ao bloco da oposição porque está tentando se apresentar como “uma poderosa terceira via, especialmente na popular figura de Henri Falcón, que conseguiu com que um estado (Lara) se virasse quase todo contra Chávez”, lembra Soledad Belloso, colunista do jornal “El Universal”, de Caracas.
Falcón era chavista. Ao contrário da oposição, que a maioria do povo alia a uma oligarquia petroleira antiga e que não dava atenção aos pobres, ele tem a mesma aceitação que o presidente entre as classes menos favorecidas. Quando rompeu com Chávez, em março deste ano, levou milhares de habitantes de Lara às ruas em apoio à sua decisão.
— Falcón, ou qualquer outro expoente da nova oposição, pode surgir como um bom nome para 2012, e a MUD pode apoiá-lo, ou vice-versa — acredita Soledad.
Alex Capriles tem uma postura mais crítica em relação à nova oposição que surge: — A ideia de unir forças contra Chávez é boa. Mas será que é sustentável? A MUD é formada de partidos de extrema-direita aos de extrema-esquerda, alguns até vindos da luta armada.
Conciliar esses interesses a longo prazo é muito complicado.
Mas Delsa Solórzano vislumbra essa possibilidade.
— Chávez destruiu tanto a Venezuela que ele é capaz de unir qualquer um. Nossa união não é ideológica, mas sim política e prática. Vamos recuperar o país a partir do domingo que vem.

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