domingo, novembro 07, 2010

A cigana que nos engana

A cigana que nos engana
CARLOS HEITOR CONY – Folha de São Paulo
RIO DE JANEIRO - Não me lembro se foi Renan ou Carlyle que comparou o progresso a um tipo de charlatão que nos deslumbra com as possibilidades de tudo conseguirmos, de tudo podermos. Uma cartomante de arrabalde, que toma nossa mão e nela vê a viagem que faremos, a fortuna que conquistaremos, o amor que nos fará felizes.
A informática é uma espécie de cigana mais ou menos honesta, programada para acertar sempre. Mesmo assim, quando ela tem falhas -e sempre as tem- provoca um tsunami em nossa ingênua credulidade.
As constantes invasões de diversos vírus revelam que o computador, nosso maior aliado, pode substituir com vantagem aqueles mordomos que, em caso de crime, são sempre culpados.
Frágil amontoado de silícios e pequenas conexões, que nada mais são do que borrões de chumbo, a eletrônica, que é tão poderosa em armazenamento e comunicação, revela-se frágil de caráter. Torna-se onipotente e onisciente, porque os homens, que a criaram e a abastecem de dados, são cúmplices dela.
Numa universidade de não sei onde, perguntaram a um computador poderosíssimo, de ultimíssima geração, se Deus existe.
O computador pediu que fosse ligado a todos os computadores existentes no mundo, no ar, na terra e no fundo dos mares. Feita a colossal conexão, entrando todos online com o mesmo sistema, a pergunta foi renovada. "Deus existe?". "Agora existe", foi a resposta.
A última eleição que tivemos foi monitorada pela internet, os candidatos, e seus seguidores, dela se aproveitaram e dela tinham medo. O que rolou de baixaria, cafajestagem, calúnias, textos apócrifos, não foi mole. Infelizmente, o resultado de tudo não ficou no mundo virtual, mas no mundo real.
Deus faria melhor se realmente existisse. A internet existe e nem sempre faz o melhor.

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