domingo, novembro 07, 2010

Tripé de Dilma

Tripé de Dilma
REGINA ALVAREZ – O Globo
A presidente eleita Dilma Rousseff já declarou muitas vezes que não pretende alterar os fundamentos da política econômica, baseada no tripé de metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário, mas quem conhece a visão de seus conselheiros mais próximos nessa área deduz que a execução da política vai ganhar um toque de ousadia.
Dilma precisa manter a inflação sob controle e o país crescendo firme e forte, pois foram essas conquistas - a primeira herdada do governo anterior - que viabilizaram a sua vitória.
Sem o céu de brigadeiro na economia, só o carisma de Lula provavelmente não seria suficiente para eleger sua sucessora.
Mas existem entraves à manutenção sustentada e duradoura do crescimento, que não são triviais.
O economista Antonio Corrêa de Lacerda, da PUCSP, aponta o câmbio e os juros como os principais nós que precisam ser desatados pelo novo governo. E mais ousadia é o que sugere para desatar esses nós.
O câmbio flutuante não impede, na sua opinião, que a equipe econômica adote medidas mais ousadas para conter o derretimento do dólar frente ao real. Medidas, que, inclusive, nem podem esperar pela posse da nova presidente.
O governo poderia aumentar a intervenção no mercado, a tributação, fixar prazos mínimos de permanência dos investimentos externos no país e usar o Fundo Soberano como uma linha auxiliar nessa batalha, evitando que parte dos dólares que o país atrai seja internalizada, sugere.
Em relação aos juros, Lacerda é categórico: - Não tem justificativa para essa taxa de juros absurda - afirma.
Na sua visão, é necessário introduzir no sistema de metas de inflação um componente novo, que considere a conjuntura internacional.
- Se o mundo mudou , as convicções têm que mudar, como diria Keynes - observa.
A conta de juros chegou a R$ 185 bilhões até julho em 12 meses, lembra o economista.
Portanto, qualquer economia nessa despesa teria impacto positivo na dívida e no déficit público.
Lacerda diz que a política atual é manca, pois busca segurar o câmbio, de um lado; e oferece aos mercados juros elevadíssimos,de outro. É como apagar incêndio usando gasolina.
A questão fiscal, na sua visão, poderia ser equacionada com uma trava nos gastos correntes para os próximos quatro anos, de modo que cresçam abaixo da variação do PIB.
Só o fato dessa questão cambial entrar nas discussão da cúpula já é muito importante. Construir consensos é mais difícil (em relação ao G-7) e não há nada de errado nisso. É um grupo muito maior com países muito diferentes" - embaixador Marcos Galvão, sobre a reunião do G-20
Simbolismo A informação mais esperada pelo mercado é o cargo e atribuições que o deputado Antonio Palocci terá no governo de Dilma Rousseff. Na campanha, Palocci atuou como uma espécie de fiador da política econômica da candidata, engrossando a lista de admiradores entre empresários e banqueiros, especialmente os paulistas. Sua escolha para coordenador técnico da transição confirma o prestígio junto à presidente eleita, mas o papel no futuro governo ainda é um ponto de interrogação.
"Qual será a efetiva política fiscal do governo Dilma é uma das maiores preocupações dos agentes econômicos.
Como a presidente enfrentará politicamente a necessidade de ajuste fiscal e qual seu efetivo empenho nesta direção é uma incógnita", destaca análise de conjuntura da MB Associados, que também reflete a ansiedade do mercado em relação ao destino de Palocci, concluindo que o deputado e ex-ministro "será essencial na intermediação política e na definição da política econômica."
Bate e volta Vejam no gráfico como não é fácil a vida do presidente do BC americano, Ben Bernanke. Ele já despejou cerca de US$ 1,6 trilhão no mercado, mas a maior parte desse dinheiro voltou para o próprio Fed. É que os bancos não estão repassando todo o crédito a empresas e consumidores, mas depositando os recursos como reservas, o que provoca um empoçamento de liquidez. "Com isso, a oferta de crédito não cresce a contento e a demanda potencial por esse capital fica restrita", diz Luis Otávio Leal, do banco ABC Brasil.
COM ALVARO GRIBEL

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