quarta-feira, dezembro 29, 2010

EXPANSÃO ACELERADA DO CRÉDITO INSPIRA CUIDADOS

EXPANSÃO ACELERADA DO CRÉDITO INSPIRA CUIDADOS
EDITORIAL - VALOR ECONÔMICO
O Banco para Compensações Internacionais (BIS), o banco central dos bancos centrais, sediado na Basileia, Suíça, alertou que o Brasil passa por um período de explosão do crédito, que pode se transformar em uma bolha. A constatação nasceu de um estudo que examinou as 26 principais economias globais e concluiu que o Brasil é um dos países com maior aquecimento do crédito, ao lado da Coreia do Sul e Cingapura. O diagnóstico levou o BIS a recomendar o reforço do capital dos bancos brasileiros.
O Banco Central (BC) não gostou da intromissão do BIS. "A consolidação da estabilidade macroeconômica e as reformas microeconômicas representam mudanças estruturais, que permitiram que o mercado de crédito brasileiro se desenvolvesse nos últimos anos", foi a resposta do BC à avaliação do BIS.
No entanto, o BIS tem razão ao constatar o forte crescimento recente dos empréstimos no Brasil. Nos últimos dez anos, o crédito cresceu a uma taxa média nominal de 15,7% ao ano, tendo como pico 2007, quando houve um salto de 31,2%. Mesmo em plena crise internacional, em 2008, o aumento foi de 15,2% no Brasil, sobre a base exuberante do ano anterior. E, neste ano, a expansão acumulada até novembro é de 18,6% com a perspectiva de fechar dezembro com 20% de crescimento sobre 2009.
Mas é preciso levar em conta que o crédito sempre foi acanhado no Brasil e, apesar do crescimento dos últimos anos, ainda está distante do patamar de outras economias. No início do século, por exemplo, o crédito era equivalente a 25% do Produto Interno Bruto (PIB). Somente mudou de patamar, na segunda metade da década, passando para por volta de um terço do PIB. Nos últimos três anos, a arrancada foi mais significativa, chegando a 47,2% do PIB em novembro. Outros países da América Latina, como o Chile e México, têm um volume de crédito bancário superior a 60% do PIB. Em algumas linhas de crédito, o Brasil está ainda mais defasado. É o caso do crédito imobiliário, que representa apenas 3,5% do PIB.
O mais surpreendente é que o crédito tem crescido sem sinais de deterioração. A inadimplência, na verdade, vem até caindo, tanto nas operações com pessoas físicas quanto nas realizadas com empresas.
O Banco Central argumenta que algumas mudanças estruturais garantiram o crescimento do crédito em bases mais seguras. Uma delas foi o desenvolvimento do crédito consignado, em que os pagamentos são debitados na folha de salários e a inadimplência só ocorre em casos de fraudes e falecimentos. Contribuiram também para melhorar a performance das carteiras as novas garantias do financiamento imobiliário e o aperfeiçoamento da lei de falências.
Um risco ao se olhar dados consolidados, como fez o BIS, é perder os detalhes. É inegável, por exemplo, que a expansão do crédito brasileiro nos dois últimos anos tem sido rebocada pelo crédito direcionado, notadamente pelas operações feitas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) . Neste ano, por exemplo, os empréstimos concedidos pelo BNDES cresceram 31,3% até novembro, 50% a mais do que a média do sistema e o dobro dos créditos feitos com recursos livres. Pode-se dizer que a forte expansão do BNDES vai redundar na deterioração da dívida pública, porque está sendo sustentada pelos reforços de capital feitos pelo Tesouro. Mas não representam ameaça de risco ao resto do sistema financeiro.
Provavelmente o argumento mais forte do Banco Central contra a avaliação do BIS é o fato de ter sido sempre mais rigoroso na exigência de capital dos bancos. Enquanto o BC exige dos bancos brasileiros um capital equivalente a 11% dos ativos ponderados pelo risco, a regra atual de Basileia estabelece 8% - número que está sendo revisto dentro do novo acordo, chamado de Basileia 3.
Como se isso não bastasse, no início do mês, o Banco Central aumentou as exigências do crédito de longo prazo (mais de 24 meses) para pessoas físicas. Na prática, os requisitos de capital para essas operações subiu de 11% para 16,5%. Uma das linhas mais penalizadas foi o financiamento de automóveis. O Banco Central também ampliou o recolhimento compulsório, enxugando R$ 61 bilhões do mercado, o que já está encarecendo o crédito para a pessoa física.
Caso o BIS não tivesse alguma razão, o BC não teria tomado essas medidas. Resta saber se serão eficientes.

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