quarta-feira, dezembro 29, 2010

A mala do ano

A mala do ano
Artur Xexéo - O Globo
Antes de mais nada, é preciso fazer justiça a esta coluna. Foi neste cantinho democrático, neste espaço em que a voz do povo sempre tem vez, que Dilma Roussef ganhou sua primeira eleição. Nunca antes na História desse país Dilma tinha vencido uma eleição direta. Foi aqui, um ano antes de tornar-se a presidenta da República, que ela ganhou o título de Mala do Ano de 2009. E sem segundo turno.
Agora, em 2010, muitos eleitores tentaram votar em Dilma outra vez. Mas uma vez mala, sempre mala. Dilma virou hors-concours, entrou para o Hall da Fama das maiores malas de todos os tempos. Os votos que recebeu foram considerados nulos. Ela transferiu muito de sua popularidade para o candidato que derrotou nas urnas presidenciais, José Serra. No entanto, Serra não ganha eleição nem para mala. Ficou, mais uma vez, em segundo lugar. É a vice-mala deste ano.
Demoro mais um pouquinho para revelar o grande vencedor deste ano não para fazer suspense barato. É que é preciso explicar um comportamento cada vez mais comum entre os eleitores: a preferência pela novela das oito que está no ar. A novela das oito nunca é uma unanimidade. Quer dizer, teve “Vale tudo”. Mas isso já faz muito tempo. De lá para cá, sempre há os espectadores insatisfeitos com o que está indo ao ar em capítulos no horário nobre da Globo.
Neste 2010 não foi diferente. Houve votos para Sílvio de Abreu, votos para Tony Ramos, muitos votos para Carolina Dieckmann, votos para Totó, votos para Maitê Proença, votos para Diana, muitos votos para Sinval, votos para Totóny Ramos...
Numa decisão inédita, o TREMA (Tribunal Regional Eleitoral da Mala do Ano) juntou todos os votos numa candidatura só, a de “Passione”. Com isso, “Passione” conquistou um honroso terceiro lugar.
Muitos perguntam como ficou na classificação final uma das nossas candidatas favoritas, Fernanda Young. Devo dizer que a mala-coelhinha começou devagar. Não foi muito lembrada. Mas, na arrancada final, seus eleitores se esforçaram, e ela conseguiu chegar em décimo lugar, exatamente a mesma posição do ano passado. Em outras palavras, o nível de malice da autora quase best-seller permanece igual. Nem mais mala, nem menos mala, apenas mala.
O resto é novidade. José de Abreu, por exemplo, que nunca esteve entre os mais votados, surpreendeu como papagaio de pirata no discurso da vitória de Dilma e ficou em quinto lugar, o que demonstra que ficar perto de uma mala do Hall da Fama é garantia quase certa de entrar para o Top 10 dos malas do ano. No campo das artes dramáticas, só mais uma mala chegou lá.
Foi Dado Dolabella, a mala agressiva, a mala chave de cadeia, a mala Maria da Penha... Dado não fez novelas, não fez teatro, não fez cinema, mas continuou saindo nos jornais, nem sempre nas páginas culturais. É uma mala versátil. Ficou em nono lugar.
No campo da política, houve mais um candidato que quase chegou lá: Tiririca. Não ficou claro se recebeu votos por seu desempenh na campanha eleitoral ou pelo seu desempenho como comediante na televisão. Nas duas categorias, Tiririca é mala inimitável. Mala de grife. Mala que não dá para falsificar. É de Tiririca, o oitavo lugar.
A música forneceu dois candidatos fortes que chegaram ao Top 10. De um lado, Chico Buarque, a mala de couro de Jabuti; do outro, Fiuk, a mala-Júnior. O primeiro ganhou muitos votos por sua adesão ao lado antiamericano do lulismo. É uma mala old-fashion. O outro... bem, Fiuk é uma mala com DNA. Quase que chega aos dez mais ao lado do pai, a mala e a frasqueira. Mas, embora sofra de malice hereditária, teve força suficiente para conquistar seu lugar sozinho. Chico ficou em sexto lugar; Fiuk, em quarto. Ah... teve mais um da área musical: Luan Santana. É dele o sétimo lugar. Mas este, eu não sei bem quem é, e nossos analistas eleitorais não souberam justificar sua inclusão na lista de malas. Mas os eleitores cravaram seu nome. Eles devem saber o que fazem.
A esta altura da coluna, o leitor deve estar confuso. Não se sabe mais quem ficou na frente de quem. Vamos resumir o resultado final repetindo o posto de cada um:
10o-) Fernanda Young
9o-) Dado Dolabella
8o-) Tiririca
7o-) Luan Santana
6o-) Chico Buarque
5o-) José de Abreu
4o-) Fiuk
3o-) “Passione”
2o-) José Serra
Ficou faltando só o vencedor definitivo. Aquele que obteve maioria absoluta. A Mala do Ano é... Dunga! Cada entrevista que deu durante a Copa do Mundo, cada jogador que escalou, cada justificativa que deu para as vitórias, cada justificativa que deu para os empates, cada justificativa que deu para a derrota trazia uma penca de votos para Dunga. O mau humor de Dunga, as grosserias de Dunga, o espírito nada esportivo de Dunga fizeram dele o campeão. Mas, não sei não, para mim, ele ganhou mesmo por causa daquele casaco do Alexandre Herchcovich. E não se fala mais disso. Até o ano que vem.
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A estreia, aqui no Brasil, vai ser só em fevereiro do ano que vem. Mas quem avisa amigo é. “Burlesque”, de Steve Antin, mesmo tendo recebido uma indicação para o Globo de Ouro de melhor comédia ou musical de 2010, ganha fácil o título de pior filme da temporada. Estrelado por uma Christina Aguilera inexpressiva e por uma Cher... o que dizer de Cher?... uma Cher mumificada, “Burlesque” é a maior coleção de clichês vista recentemente no cinema e o mais artificial e ineficiente musical dos últimos tempos. O roteiro — menina talentosa sai de cidade do interior para vencer na cidade grande — é indefensável, e as músicas... são as músicas mais chatas já ouvidas numa sala de projeção. O diretor imita um pouco de “Cabaret”, um tanto de “Chicago” e um bocado de “Moulin Rouge” para não chegar a lugar nenhum.
Como é que esse Frankenstein foi parar no Globo de Ouro é inexplicável. “Burlesque” prova que Aguilera nunca deveria ter estreado no cinema e que Cher já deveria ter se aposentado.
Uma bomba!

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