quarta-feira, dezembro 29, 2010

O LEGADO DE UMA GERAÇÃO

O LEGADO DE UMA GERAÇÃO
EDITORIAL - JORNAL DO COMMERCIO (PE)
As últimas eleições não renovaram os mandatos de alguns políticos que ocupavam lideranças partidárias e se faziam porta-vozes de uma corrente com grande ressonância, como foi o caso dos senadores Arthur Virgílio, do Amazonas, Heráclito Fortes e Mão Santa, do Piauí, e Tasso Jereissati, do Ceará. Todos dominavam a tribuna do Senado para se contrapor ao governo Lula, com grande veemência. Todos foram derrotados nas urnas, pagando o preço de serem oposição a um presidente que deixa o governo com o maior índice de aprovação da história. Em Pernambuco tivemos algumas baixas importantes, também como resultado do momento político-eleitoral diferenciado, marcado pelo sucesso de políticas sociais e econômicas que vêm sendo aplicadas nos últimos anos e contra as quais era difícil formular argumentos.
Veja-se o caso de Oswaldo Coelho, derrotado para a Câmara Federal. Trata-se de uma liderança construída em torno da lendária combatividade dos Coelho de Petrolina, reduzido a pouco mais de 35 mil votos, um número inexpressivo até mesmo para a Assembleia Legislativa. O que fez Oswaldo Coelho durante a campanha? Fez ecoar um discurso radicalmente contrário ao governo federal até mesmo em questões que pareciam – e parecem – decisivas para melhorar as condições de vida dos sertanejos, como é o caso da transposição das águas do São Francisco.
Outro pernambucano que encerra 44 anos de vida pública – por conta própria – é o deputado federal José Mendonça, deixando um herdeiro na Câmara Federal. É outro cuja trajetória foi feita de posições claras, desde os primeiros passos, ao ser eleito deputado estadual pela Arena, base política da ditadura militar. Apesar disso, orgulha-se de ter criado e mantido laços de amizade com líderes que estavam do lado oposto, como Miguel Arraes e Egídio Ferreira Lima. Encerrou a carreira na tribuna da Câmara, recebendo apartes simpáticos até de deputados do PT.
O deputado Roberto Magalhães também estará fora da bancada pernambucana porque assim decidiu. Político marcado pelo temperamento forte, pela coerência e honestidade, sua história foi maculada pela fidelidade com que participou do poder durante a ditadura, atuação que nunca negou ou repudiou. Na Câmara Federal fez-se admirar pela atenção ao ordenamento jurídico, pela cobrança de reformas para a limpeza da atividade política e pela defesa da ética na vida pública. Em seus pronunciamentos e nas entrevistas sempre deixou transparecer um certo desencanto com a política e assim desistiu de disputar mais um mandato de deputado federal.
Marco Maciel é outro caso a ser destacado na crônica política pernambucana. Sua derrota foi fragorosa e está inteiramente relacionada com a consagração de seu conterrâneo na Presidência da República. Essa é outra história que haverá de ser contada com muitos detalhes, que tanto podem comprometer quanto salientar seus méritos. Ele também participou do poder no período da ditadura militar mas, apesar disso, foi escolhido para a vice-presidência na redemocratização e recebeu, até de notáveis adversários, o reconhecimento como um político respeitável. Assim, por exemplo, quando Miguel Arraes, antes de voltar ao poder, dizia que o problema das oposições era a competência do governo estadual: “Nós estávamos acostumados a trabalhar com governantes incompetentes e corruptos.
O governador Marco Maciel é trabalhador e está à altura da velha tradição pernambucana de políticos competentes e honestos”. Carlos Wilson afirmava que não se podia dizer nada contra Maciel, “a não ser questionar seu discurso político e ideológico”. Foi esse discurso que tirou de Marco Maciel, pela primeira vez, um mandato público. Mas é inevitável o reconhecimento que esses pernambucanos apeados do poder pelo prestígio do conterrâneo presidente da República deixam algumas lições que servem de exemplo para as novas gerações.  

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